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SAÚDE
Aumenta número de anúncios de profissionais oferecendo sexo sem preservativo e atos que podem transmitir Aids
Prostituta oferece sexo oral sem camisinha
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
O aumento da concorrência no
mercado da prostituição está levando mulheres a anunciar sexo
oral sem camisinha, prometer dois
orgasmos pelo preço de um e oferecer beijo na boca. Sexo oral sem
camisinha é considerado de risco
para o HIV e várias doenças sexualmente transmissíveis. No "código de honra" das prostitutas,
beijo na boca sempre foi considerado "intimidade" não incluída
nos serviços.
Instituições ligadas à prevenção
e a Abipre -associação que reúne
importadores de preservativos-
estudam uma campanha na mídia
para alertar os "clientes" sobre os
riscos do sexo oral desprotegido.
A Abipre pesquisou classificados
de garotas de programa durante
um mês e concluiu que quase 15%
delas ofereciam sexo oral sem preservativo. A reportagem constatou
que esse tipo de oferta chega a 40%
nas seções de alguns jornais.
Os textos são bastante parecidos,
oferecem sexo anal sem nenhuma
restrição e prometem sexo oral
sem camisinha, "até o fim".
Quando consultadas pelo telefone, as mulheres confirmam que na
"casa" algumas profissionais dispensam a camisinha. Elas próprias
acabam negando. "Eu só faço no
comecinho e se o cliente for bem
higiênico", disse Luana, 19, da Vila
Mariana. Outras, como Aline e Camila -que nos anúncios oferecem
sexo oral sem camisinha- afirmam que costumam negociar os
"detalhes" com o cliente.
Elas próprias atribuem essa prática à concorrência. "O cliente
sempre está querendo sem camisinha", disse Carla, 37, da Santa Cecília, região central. "Se a gente não
põe isso no anúncio, eles vão procurar outra casa."
Os programas custam R$ 20,00
em média e, como adicional, muitas estão oferecendo dois orgasmos pelo mesmo preço. "Se o
cliente conseguir em 15 minutos,
tudo bem", disse Luiza, da região
da Paulista.
O abandono explícito da camisinha nos anúncios surpreendeu os
técnicos do Programa Estadual de
DST-Aids. "A resistência à camisinha sempre existiu por parte dos
homens, mas as profissionais costumavam resistir a isso", afirma a
socióloga Nina Laurindo, que
coordena projetos de prevenção
junto a profissionais do sexo.
Nina diz que o aumento do número de mulheres é visível em São
Paulo e no interior. Na região da
Luz, por exemplo, onde no início
do ano cerca de 150 mulheres recebiam camisinha, agora são mais de
200. "É comum elas afirmarem que
estão indo para a rua porque perderam o emprego", diz Nina. Segundo ela, há períodos em que os
homens ficam "mais resistentes"
ao uso de preservativos. "Não sabemos explicar esse fenômeno,
mas nessas fases, eles oferecem
qualquer preço para isso. Com as
dificuldades econômicas, as mulheres tendem a ceder."
Wildney Feres Contrera, do Gapa, diz que o crescimento de mulheres na prostituição está sendo
mais rápido do que os programas
de prevenção. "As mulheres e os
clientes precisam ser alertados dos
riscos que correm. É um produto
que está sendo oferecido e que exige segurança para as duas partes."
O advogado Roberto Altieri, secretário executivo da Abipre, diz
que as campanhas de prevenção
"precisam usar uma linguagem
mais direta". A Abipre está sugerindo a publicação de anúncios
junto aos classificados de sexo
lembrando que "tal prática sem camisinha traz risco para a saúde".
Elisabete Inglesi, que participou
de trabalhos de prevenção, disse
que era difícil convencer as profissionais de que sexo oral tinha risco. "Com os companheiros, até hoje muitas não usam camisinha."
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