São Paulo, Quarta-feira, 14 de Abril de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Aumenta número de anúncios de profissionais oferecendo sexo sem preservativo e atos que podem transmitir Aids
Prostituta oferece sexo oral sem camisinha

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

O aumento da concorrência no mercado da prostituição está levando mulheres a anunciar sexo oral sem camisinha, prometer dois orgasmos pelo preço de um e oferecer beijo na boca. Sexo oral sem camisinha é considerado de risco para o HIV e várias doenças sexualmente transmissíveis. No "código de honra" das prostitutas, beijo na boca sempre foi considerado "intimidade" não incluída nos serviços.
Instituições ligadas à prevenção e a Abipre -associação que reúne importadores de preservativos- estudam uma campanha na mídia para alertar os "clientes" sobre os riscos do sexo oral desprotegido.
A Abipre pesquisou classificados de garotas de programa durante um mês e concluiu que quase 15% delas ofereciam sexo oral sem preservativo. A reportagem constatou que esse tipo de oferta chega a 40% nas seções de alguns jornais.
Os textos são bastante parecidos, oferecem sexo anal sem nenhuma restrição e prometem sexo oral sem camisinha, "até o fim".
Quando consultadas pelo telefone, as mulheres confirmam que na "casa" algumas profissionais dispensam a camisinha. Elas próprias acabam negando. "Eu só faço no comecinho e se o cliente for bem higiênico", disse Luana, 19, da Vila Mariana. Outras, como Aline e Camila -que nos anúncios oferecem sexo oral sem camisinha- afirmam que costumam negociar os "detalhes" com o cliente.
Elas próprias atribuem essa prática à concorrência. "O cliente sempre está querendo sem camisinha", disse Carla, 37, da Santa Cecília, região central. "Se a gente não põe isso no anúncio, eles vão procurar outra casa."
Os programas custam R$ 20,00 em média e, como adicional, muitas estão oferecendo dois orgasmos pelo mesmo preço. "Se o cliente conseguir em 15 minutos, tudo bem", disse Luiza, da região da Paulista.
O abandono explícito da camisinha nos anúncios surpreendeu os técnicos do Programa Estadual de DST-Aids. "A resistência à camisinha sempre existiu por parte dos homens, mas as profissionais costumavam resistir a isso", afirma a socióloga Nina Laurindo, que coordena projetos de prevenção junto a profissionais do sexo.
Nina diz que o aumento do número de mulheres é visível em São Paulo e no interior. Na região da Luz, por exemplo, onde no início do ano cerca de 150 mulheres recebiam camisinha, agora são mais de 200. "É comum elas afirmarem que estão indo para a rua porque perderam o emprego", diz Nina. Segundo ela, há períodos em que os homens ficam "mais resistentes" ao uso de preservativos. "Não sabemos explicar esse fenômeno, mas nessas fases, eles oferecem qualquer preço para isso. Com as dificuldades econômicas, as mulheres tendem a ceder."
Wildney Feres Contrera, do Gapa, diz que o crescimento de mulheres na prostituição está sendo mais rápido do que os programas de prevenção. "As mulheres e os clientes precisam ser alertados dos riscos que correm. É um produto que está sendo oferecido e que exige segurança para as duas partes."
O advogado Roberto Altieri, secretário executivo da Abipre, diz que as campanhas de prevenção "precisam usar uma linguagem mais direta". A Abipre está sugerindo a publicação de anúncios junto aos classificados de sexo lembrando que "tal prática sem camisinha traz risco para a saúde".
Elisabete Inglesi, que participou de trabalhos de prevenção, disse que era difícil convencer as profissionais de que sexo oral tinha risco. "Com os companheiros, até hoje muitas não usam camisinha."


Texto Anterior: Barbara Gancia: Rubens Barrichello cala a boca dos críticos
Próximo Texto: Sexo oral é porta para DSTs
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.