São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2001

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CONSUMO
CAPITALIZAÇÃO

Propaganda veiculada pela Sul América induz cliente a acreditar que está adquirindo veículo da Fiat a prazo

Empresa anuncia carro para vender título

EUNICE NUNES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nos últimos 20 dias, a Folha recebeu quatro reclamações do plano de capitalização Sul América Super Fácil Fiat. No Procon de São Paulo, há 21 em andamento.
Basicamente, os consumidores se queixam da forma de contratação e do valor do resgate, seja ele antecipado ou feito no final do prazo do título de capitalização.
O nome do produto e a publicidade levam o consumidor a crer que está comprando um carro da marca Fiat a prazo.
São condições vantajosas: pequenas parcelas, sem comprovação de renda, oito sorteios por mês, sem fiador ou avalista, mesmo que o comprador esteja na lista negra do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) ou do Serasa.
Embora o contrato seja de aquisição de um título de capitalização, o chamariz é o automóvel.
No endereço da Sul América Capitalização na internet, ao lado da foto de um carro Fiat, o texto diz "programe a compra de seu Fiat zerinho com desconto de até 11%, sem burocracia, e com garantia de entrega através da rede autorizada Fiat".
Alexandre Costa Oliveira, técnico de assuntos financeiros do Procon/SP, informa que a empresa já alterou as peças publicitárias, "que já foram piores", mas ainda não deixou claro que está vendendo um título de capitalização.
"A forma como o negócio é feito induz o consumidor a erro, a acreditar que o sorteio é fácil, que no final vai levar um carro para casa. Mas a probabilidade de alguém ser sorteado é de 0,0001%", afirma o técnico do Procon/SP.
A empresa negocia com o Procon de Belo Horizonte mudanças na publicidade. "Enviamos sugestões e estamos esperando um posicionamento", diz Antonio Carlos Gabriel, diretor de marketing da Sul América Capitalização.
Segundo Oliveira, o título de capitalização vinculado a um bem de consumo não dá garantia de que, ao final do plano, o consumidor consiga comprá-lo. "Como o comprador recebeu uma informação inadequada sobre a natureza do negócio, fica frustrado."
Foi o que houve com o empresário Helio Burzaca Lopes, 32. Em 26 de março, pagou a última das 24 parcelas do título, totalizando R$ 16.547,28. Lopes queria um Palio Weekend 1.0. Ele resgatou R$ 15.312,94 em 27 de abril, ganhou um certificado de desconto de R$ 612,51 e o direito a um desconto de 3,5% na compra do Palio.
"Só que o carro agora custa cerca de R$ 21 mil. Não dá para comprar. Além disso, o vendedor não me informou que o resgate seria de apenas 90% do que paguei", diz. "Me senti um tolo, um idiota. Fui na conversa do vendedor, não li o contrato e perdi dinheiro."
A produtora de eventos Roberta G. Martins de Oliveira, 30, diz que, ao fechar o negócio, pensava estar comprando o carro. "Quando tinha pago quatro parcelas e percebi do que se tratava, desisti."
Ao ver o anúncio do título, seu carro tinha sido roubado. Ligou e um vendedor foi a sua casa.
"Ele me convenceu que o plano era bom, barato e que logo poderia ganhar o carro. Sendo sorteada, ganharia emplacamento, IPVA, rádio com CD e seguro total por um ano." Roberta admite o erro ao não ler o contrato, mas diz que o vendedor deve dar informações corretas sobre o produto.
"Seguro, IPVA e emplacamento só se oferecem a quem tem carro. Paguei quase R$ 900 e a Sul América quer me devolver R$ 97,50."


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