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SEGURANÇA
Grupo paulista pagou adiantado a cartel, mas manteve homem em cativeiro por 6 meses como garantia de entrega da droga
Boliviano vira refém em acordo com tráfico
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um boliviano de 31 anos foi
mantido refém por traficantes
brasileiros durante seis meses em
troca do pagamento adiantado de
meia tonelada de cocaína.
O refém pertence à quadrilha
produtora da droga, na Bolívia,
segundo a Polícia Civil paulista.
Só seria libertado quando toda a
carga negociada chegasse às mãos
dos brasileiros. Se isso não acontecesse, seria assassinado.
Cinematográfica, a história não
termina por aí. Após cinco meses
de investigação e interceptações
telefônicas, os policiais identificaram o chefe da organização criminosa: um preso.
Ele é Abdiel Pinto Rabelo, 49, irmão do ex-deputado federal Jabes
Rabelo (PL-RO). Membro de
uma das mais ricas famílias de
Rondônia, Abdiel dava ordens
aos comparsas por telefone, de
uma cela da Penitenciária Nestor
da Canoa, em Mirandópolis (607
km de SP), uma das que têm bloqueador de celular. A Secretaria
da Administração Penitenciária
disse que, instalados há mais de
um ano, "os aparelhos já são suscetíveis a novas tecnologias".
"Esse é o primeiro caso [de troca de pagamento adiantado por
refém] que flagramos no Brasil,
mas tivemos registro de três casos, no ano passado, nos quais
brasileiros foram reféns no exterior [um na Bolívia e dois na Colômbia] exatamente para que não
houvesse o pagamento adiantado
da droga", afirma Ivaney Caires
de Souza, diretor do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos). "A estratégia deve ter sido a saída possível com a
redução do poderio dos cartéis."
A quadrilha foi flagrada ao receber um dos lotes dos 500 kg encomendados -que seriam distribuídos entre o eixo Rio-SP e o
Norte do país. Seria um carregamento de 80 kg, dos quais a polícia localizou 5 kg.
Além do boliviano Marcos Antonio Suarez Barcaza, 31, foram
presos Landerson Corrêa Rodrigues, 29, e Rafael Santana, 23.
Barcaza, que se diz agricultor
em Beni, estava trancado em um
cômodo no Jardim Júlia (zona
sul). Rodrigues seria o segundo
homem da quadrilha e foi preso
em Diadema, num endereço que
seria a base do bando. Santana é
motorista, mas guardava a droga
em sua casa, no Jardim Miriam.
Todos, segundo a polícia, evocaram o direito de ficar em silêncio.
A carreira penitenciária de Abdiel começou em julho de 1991,
quando ele e um de seus irmãos,
Noabias, foram flagrados em um
posto da rodovia dos Bandeirantes com 554 kg de cocaína.
Na ocasião, Abdiel carregava
uma carteira de assessor parlamentar que lhe dava acesso livre
às instalações do Congresso. O
episódio culminou na cassação
do mandato do então deputado
federal Jabes Rabelo, irmão do
acusado e supostamente envolvido na falsificação da carteirinha.
Desde então, ele protagonizou
duas fugas espetaculares. Na primeira, em julho de 2003, foi resgatado de um consultório dentário
de São Paulo por homens com
metralhadoras e granadas.
Recapturado, ele fugiu em 2001,
junto com três presos, serrando as
grades de uma cela supostamente
de segurança máxima da Polícia
Federal em Porto Velho (RO).
Na ocasião, uma testemunha
disse ao Ministério Público que
Abdiel integrava o Terceiro Comando e que a facção era responsável pela encomenda de 500 kg
de dinamite, com o objetivo de
explodir o muro de uma penitenciária em Rio Branco (AC), onde
o traficante estava pouco antes de
ir para a PF. O carregamento, de
fato, havia sido interceptado no
começo daquele ano.
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