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DIREITOS HUMANOS
Em 2003, foram 149 denúncias, 60% a mais do que no ano anterior; para PM, dado "não é alarmante"
Em MG, crescem casos de tortura policial
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Relatório divulgado ontem pela
Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos do Ministério Público de Minas Gerais apontou
que, em 2003, houve aumento de
60% em relação ao ano anterior
no número de policiais (militares
e civis) denunciados pela prática
de tortura no Estado.
Ao todo, foram propostas ações
penais por tortura contra 149 policiais, sendo 93 militares e 56 civis. Em 2002, foram denunciados
39 militares e 54 civis, em um total
de 93. O aumento das denúncias,
portanto, foi de 138% para os militares e 4% para os civis.
As denúncias, em sua maior
parte, consistem em acusações de
uso de violência contra supostos
criminosos para obtenção de confissões. No ano passado, segundo
a Promotoria, foram condenados
12 policiais por tortura no Estado
-oito civis e quatro militares.
Em uma das sentenças, a juíza
Sonia Duarte, da 8ª Vara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado,
descreve o que chamou de "sessão de barbáries" praticada por
dois policiais civis contra um preso da Delegacia de Furtos e Roubos, em Belo Horizonte.
O texto diz que o detento foi
agredido com pauladas e choques
elétricos, enquanto dependurado
em um pau-de-arara (instrumento de tortura em que a pessoa fica
de cabeça para baixo). Em bilhete
para familiares anexado ao processo, o preso diz que os policiais
o estavam "matando de tanto bater". A denúncia foi oferecida em
2000 e os policiais foram condenados a dois anos e 11 meses e a
um ano e nove meses de prisão.
Diz o relatório do Ministério
Público: "(...) A tortura ainda hoje
é prática corriqueira empregada
por agentes do Estado, em regra
em face de supostos criminosos,
seja para obter confissões (ainda
que falsas), seja como "castigo" ou
mesmo para satisfazer desejos ou
desvios patológicos".
A pena prevista para o crime de
tortura, que é inafiançável, é de
dois a oito anos de prisão -no
caso de morte, de oito a 16 anos.
Os policiais mineiros denunciados pela Promotoria teriam praticado torturas como sufocamento
com saco plástico, introdução de
objetos no ânus, queimaduras, simulação de execução, pisoteamento, ingestão de alimentos podres e espancamento.
"A grande dificuldade nesses
casos é que ninguém tortura na
presença de testemunhas, normalmente são atos praticados
dentro de unidades policiais ou
em lugares ermos", diz o promotor Antônio Aurélio Santos.
Outros crimes, como abuso de
autoridade, violência arbitrária e
maus-tratos, tiveram 181 policiais
denunciados em 2003 (120 militares e 61 civis). Houve queda de
16% em relação a 2002.
Segundo o corregedor-geral da
PM de Minas, coronel Cláudio Lélis, o aumento das denúncias de
tortura contra militares no Estado
é um dado "preocupante", porém
não "alarmante". "Considerando
que temos 45 mil homens no Estado, não é um dado alarmante."
A Polícia Civil alegou que não
comentaria o relatório por não ter
tido acesso ao seu teor.
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