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Sequestrador sobreviveu a chacina
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O sequestrador dos passageiros
do ônibus Gávea-Central do Brasil, identificado pela polícia como
Sandro do Nascimento, foi um
dos sobreviventes do massacre de
menores, em julho de 93, no qual
oito meninos foram assassinados
por policiais no Rio.
O episódio ficou conhecido como Chacina da Candelária, numa
referência à praça onde estavam
quando foram mortos. Nascimento foi um dos 62 sobreviventes, afirmou ontem a advogada
dos menores, Cristina Leonardo.
Ele foi identificado também por
moradores da favela Nova Holanda, que acompanharam o sequestro pela TV. É conhecido na favela
como ""Manchinha".
A primeira a identificá-lo foi a
faxineira Elza da Silva, 45, que
afirma ser mãe dele. Segundo ela,
o verdadeiro nome de ""Manchinha" seria Alessandro Silva, um
menino que teria vivido "de déu
em déu (nas ruas)" desde os 7
anos. ""Reconheci meu filho assim
que ele apareceu na janela do ônibus, com a arma apontada para
uma moça", relatou, chorando.
Ele foi identificado como Sandro do Nascimento pela 15ª DP,
que apura o caso. A delegada titular, Martha Rocha, demonstrou
surpresa diante da informação
dos moradores. Disse que a identificação foi feita a partir de informações do Instituto Félix Pacheco
(órgão da Secretaria de Segurança
que expede as carteiras de identidade), mas admitiu que ele pode
ter usado mais de um nome.
Apesar dos nomes diferentes,
Sandro Nascimento e Alessandro
Silva tinham várias coisas em comum: ambos nasceram em setembro de 78, tinham apenas o
nome da mãe na certidão, eram
moradores da Nova Holanda e o
apelido de Sandro entre os menores sobreviventes da Chacina da
Candelária era ""Alex".
Cercada por vizinhos, que ora
recriminavam a imprensa, ora a
polícia, Elza Silva, mãe de Alessandro, disse que chegou a pensar
em ir até o Jardim Botânico durante o sequestro para convencer
o filho a se entregar à polícia, mas
teve medo e desistiu.
Foi também por medo, segundo
afirmou, que ela não foi ontem ao
IML, no centro da cidade, onde o
corpo do sequestrador estava sendo necropsiado. ""De que me
adianta ir lá, se não vou ter meu filho de volta?", afirmou, sendo novamente apoiada pelos vizinhos.
Elza disse que reconheceu o filho não só pela fisionomia, como
também pelo sinal na face -daí o
apelido de ""Manchinha"- e pelo
dedo mínimo da mão direita torto, que, segundo ela, apareceu de
forma nítida na TV quando o jogaram dentro do camburão.
Ela disse à Folha que, por falta
de condições financeiras, entregou o filho a uma amiga de nome
Madalena quando ele tinha apenas 3 anos. A mulher morreu quatro anos depois e ela perdeu o
contato com filho.
Diz que procurou pelo filho durante vários anos, em vão. Em 98,
segundo relata, o rapaz apareceu
na Nova Holanda, procurando
pela mãe e acabaram se encontrando. Moraram juntos até março do ano passado, quando ele
disse que tinha conhecido uma
moça e iria morar com ela. ""Nunca mais o vi, mas sabia que ele
vendia refrigerantes na praia de
Copacabana", afirma.
Elza Silva declara não possuir
nenhum documento do filho e
conta que ele próprio afirmava ter
perdido toda a documentação.
Diz que o rapaz é filho de um caminhoneiro, de nome Carlos Alberto Rodrigues, que não o registrou. Afirma não ver explicação
para o fato de a polícia ter identificado o sequestrador como Sandro do Nascimento.
Ficha criminal
A ficha criminal de Sandro do
Nascimento dá que ele sofreu
duas condenações: a primeira por
furto, em julho de 1997, quando
recebeu pena de dois anos em regime aberto, ou seja, em liberdade.
A segunda condenação, por
tentativa de assalto, veio em outubro de 1998, quando foi condenado a três anos, seis meses e 20 dias
de prisão em regime semi-aberto
(só dormir na prisão).
Ele estava na carceragem da 26ª
DP (na Zona Norte) quando fugiu, junto com outros 30 presos,
no dia 1º de janeiro do ano passado. Desde então, estava solto.
Segundo a Secretaria de Estado
de Segurança, Nascimento respondia a mais um processo por
furto e a outro por uso de drogas.
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