São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2000


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VIOLÊNCIA NO RIO
Parentes da professora Geísa Gonçalves, 20, pretendem recorrer à Justiça para que governo do Rio se responsabilize pela morte
Família de refém morta quer indenização

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A família de Geísa Firmo Gonçalves, 20, não quer vingança. Os parentes querem que o governo do Estado do Rio de Janeiro se responsabilize pela morte dela e pague uma indenização. Para isso, prometem entrar na Justiça. Geísa foi morta anteontem durante o sequestro de um ônibus na capital fluminense.
"Dinheiro nenhum vai trazer a Geísa de volta, mas temos de tomar todas as providências para que os governantes saibam que ela não era sozinha no mundo, que não era um bicho que podem matar e jogar no lixo", disse Marta Firmo, prima de Geísa.
Fazia cerca de um ano que a moça havia deixado Fortaleza (CE), cidade onde nasceu. O fato de não ter mais a mãe -Josefa Firmo, morta há dois anos- a motivou a ir para o Rio de Janeiro morar com o namorado.
Geísa deixou a escola e viajou. Conseguiu um emprego de professora em uma escolinha de artes na favela da Rocinha, onde ensinava artesanato a crianças.
"Ela não pensou duas vezes. Largou tudo", disse a prima. "Antes de pegar o avião, ela foi ao shopping e mandou fazer uma camiseta com o nome dele."
Na capital cearense, Geísa vivia com a irmã, Elisangela Gonçalves, no bairro João 23, periferia da cidade. Os parentes não sabem onde vive o pai das moças, Edilson Gonçalves, com quem a professora nunca manteve um relacionamento próximo.
Além da irmã, as únicas pessoas da família com quem convivia no Ceará eram tios e primos. Ela será enterrada hoje no mesmo jazigo onde está a mãe, em Fortaleza.
No IML (Instituto Médico Legal) do Rio, ficou confirmado que ela estava grávida de dois meses. Geísa havia levantado a suspeita para os parentes, mas não havia confirmado a gestação.
Para o coronel da PM Ivan Macedo, presidente do Clube dos Oficiais da Polícia Militar do Ceará e tio de Geísa, a polícia carioca errou ao tentar libertar sua sobrinha com violência.
"Aconteceu um erro grave. O policial, que tinha uma metralhadora na mão, não conseguiu conter a emoção e quis, com a arma, resolver tudo, ser o herói. Quando ele atirou no bandido, houve uma reação natural, e o sequestrador atirou em Geísa até como uma forma de se defender", disse.
Marta Firmo e Francisca Firmo Paz, 68, tia de Geísa, estavam assistindo TV quando viram as imagens do sequestro. O coronel Macedo não acompanhou pela televisão o desfecho do drama.
"O erro (da polícia) foi ainda maior porque não adiantava cometer outro crime, desta vez contra o bandido, porque isso não ia trazer a Geísa de volta ou amenizar o mal feito a ela."


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