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Analfabeto se sente impotente, diz pesquisadora
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fabiano, personagem sertanejo de "Vidas Secas", o
analfabeto mais notável da
literatura brasileira, "dava-se bem com a ignorância",
escreveu Graciliano Ramos,
mas sonhava com os filhos
na escola "aprendendo coisas difíceis e necessárias".
Mais de seis décadas depois da publicação do romance, pesquisa da psicóloga Ana Lúcia Paes de Barros,
da Universidade Estácio de
Sá, constatou que a maioria
dos analfabetos percebe o
analfabetismo como uma espécie de impotência parecida com a vivida por Fabiano.
"A maioria deles fala disso
quando perguntamos como é
ser analfabeto: humilhação e
impotência são sentimentos
que aparecem muito frequentemente", afirma Ana
Lúcia, que pesquisou jovens
e adultos em processo de alfabetização.
Ela observa que esse tipo
de percepção é mais forte nas
cidades do que na zona rural
ou em pequenas cidades do
interior. "Nas cidades, quem
não lê placas fica perdido, é
como se fosse um estrangeiro na sua própria vizinhança", compara.
A pesquisa mostrou que
ganhar autonomia para atividades simples do dia-a-dia,
como ir ao banco ou andar de
ônibus, são objetivos mais citados entre os alunos de classes de alfabetização para jovens e adultos do que a vontade de ler livros ou revistas.
Conseguir trabalho foi o objetivo mencionado pela
maior parte das pessoas ouvidas na pesquisa.
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