São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Analfabeto se sente impotente, diz pesquisadora

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fabiano, personagem sertanejo de "Vidas Secas", o analfabeto mais notável da literatura brasileira, "dava-se bem com a ignorância", escreveu Graciliano Ramos, mas sonhava com os filhos na escola "aprendendo coisas difíceis e necessárias".
Mais de seis décadas depois da publicação do romance, pesquisa da psicóloga Ana Lúcia Paes de Barros, da Universidade Estácio de Sá, constatou que a maioria dos analfabetos percebe o analfabetismo como uma espécie de impotência parecida com a vivida por Fabiano.
"A maioria deles fala disso quando perguntamos como é ser analfabeto: humilhação e impotência são sentimentos que aparecem muito frequentemente", afirma Ana Lúcia, que pesquisou jovens e adultos em processo de alfabetização.
Ela observa que esse tipo de percepção é mais forte nas cidades do que na zona rural ou em pequenas cidades do interior. "Nas cidades, quem não lê placas fica perdido, é como se fosse um estrangeiro na sua própria vizinhança", compara.
A pesquisa mostrou que ganhar autonomia para atividades simples do dia-a-dia, como ir ao banco ou andar de ônibus, são objetivos mais citados entre os alunos de classes de alfabetização para jovens e adultos do que a vontade de ler livros ou revistas. Conseguir trabalho foi o objetivo mencionado pela maior parte das pessoas ouvidas na pesquisa.


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