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Por não saber ler, Sandra já tomou até remédio errado
JULIAN KIRSTEN ARNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Aos 39 anos, Sandra Lima tomou na última semana uma decisão que adiava havia anos.
Inscreveu-se no curso de alfabetização adulta do bairro onde
mora, o Jardim São Luís, localizado na zona sul.
Por não saber ler, atividades
cotidianas exigem grande esforço de Sandra, que atualmente é dona-de-casa. No escritório
onde antes trabalhava como faxineira, sofria quando tinha de
atender ao telefone e transmitir recados.
"Ninguém podia conversar
comigo. Eu ficava decorando
até conseguir passar o recado
para o chefe", recorda.
Muitas vezes, ela conta, pegava o ônibus errado. Seu chefe
escrevia em um bilhete o nome
da linha que deveria pegar,
mas, no tempo gasto para comparar o letreiro do ônibus ao rabisco do papel, o veículo já tinha partido. Diz também que,
em três eleições, acha que votou no candidato "errado".
Com medicamentos, a situação é ainda mais séria. Sandra
conta que não consegue ler rótulos e já foi hospitalizada por
ter tomado remédios errados.
Teme que, assim, não possa
cuidar dos filhos. "Como vou
fazer alguma coisa por eles se
não sei escrever seus nomes?"
A esperança de mudar a resposta para essa e outras aflições
está no curso noturno do centro Associação Santa Cecília,
que agora começa a frequentar.
As salas costumam estar lotadas. Juliana Olavo, coordenadora do programa de alfabetização, estima que, como Sandra, 80% dos alunos do centro
frequentam ali as primeiras aulas que já tiveram na vida.
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