São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

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Por não saber ler, Sandra já tomou até remédio errado

JULIAN KIRSTEN ARNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos 39 anos, Sandra Lima tomou na última semana uma decisão que adiava havia anos. Inscreveu-se no curso de alfabetização adulta do bairro onde mora, o Jardim São Luís, localizado na zona sul.
Por não saber ler, atividades cotidianas exigem grande esforço de Sandra, que atualmente é dona-de-casa. No escritório onde antes trabalhava como faxineira, sofria quando tinha de atender ao telefone e transmitir recados.
"Ninguém podia conversar comigo. Eu ficava decorando até conseguir passar o recado para o chefe", recorda.
Muitas vezes, ela conta, pegava o ônibus errado. Seu chefe escrevia em um bilhete o nome da linha que deveria pegar, mas, no tempo gasto para comparar o letreiro do ônibus ao rabisco do papel, o veículo já tinha partido. Diz também que, em três eleições, acha que votou no candidato "errado".
Com medicamentos, a situação é ainda mais séria. Sandra conta que não consegue ler rótulos e já foi hospitalizada por ter tomado remédios errados. Teme que, assim, não possa cuidar dos filhos. "Como vou fazer alguma coisa por eles se não sei escrever seus nomes?"
A esperança de mudar a resposta para essa e outras aflições está no curso noturno do centro Associação Santa Cecília, que agora começa a frequentar.
As salas costumam estar lotadas. Juliana Olavo, coordenadora do programa de alfabetização, estima que, como Sandra, 80% dos alunos do centro frequentam ali as primeiras aulas que já tiveram na vida.


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