|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOGO
Estados e empresários discordam de decreto que está sendo preparado pelo ministro Rafael Greca (Esporte e Turismo)
Caixa deve assumir controle dos bingos
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
O ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca, prepara um decreto para transferir a fiscalização
das casas de bingo para a CEF (Caixa Econômica Federal).
Ao propor a medida, o ministro
mexeu em vespeiro. Vários Estados discordam da transferência,
pois não querem perder sua fatia
de 3% na venda das cartelas. Os
empresários do bingo também rejeitam a mudança.
Desde a aprovação da Lei Pelé,
em março do ano passado, a fiscalização e o controle das casas de
bingo são de responsabilidade do
Indesp (Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto do
Ministério do Esporte e Turismo),
que, sem recursos, delegou a tarefa
aos Estados, mediante convênios.
Segundo Greca, o governo federal não tem hoje nenhum controle
sobre os bingos. Não sabe quantas
casas exploram essa modalidade
de jogo no país nem o volume de
dinheiro que movimentam.
A única informação sobre a receita dos bingos em âmbito nacional é uma estimativa da Caixa divulgada em 98. O estudo calculou o
movimento anual em R$ 900 milhões. A cifra real pode ser muito
superior à estimada pelo governo.
No Paraná e no Rio, onde as loterias estaduais fiscalizam os bingos,
a receita supera R$ 300 milhões
por ano, somando-se o movimento nos dois Estados. O Rio tem 12
bingos, e o Paraná, 19.
Para o governo federal, São Paulo é o maior exemplo de descontrole sobre esse setor. O governo
estadual admite que não fiscaliza
os bingos desde a aprovação da Lei
Pelé. A estimativa é que existam
mais de cem casas clandestinas só
na capital paulista.
Pela Lei Pelé, os bingos devem
destinar 7% de seu faturamento a
entidades esportivas. O coordenador de Esportes do Estado de São
Paulo, Antônio Carlos Pereira, diz
não saber o quanto eles repassam
para o esporte no Estado. Mesmo
assim, afirma que os bingos são a
solução para a sobrevivência das
entidades esportivas, "desde que
fiscalizados e com normas claras
de funcionamento".
Rafael Greca quer cancelar os
convênios firmados com os Estados e que seu ministério reassuma
o poder sobre a atividade.
Segundo ele, o Indesp -que hoje não tem nenhuma participação
na receita dos bingos- passará a
cobrar uma taxa anual de credenciamento dos bingos e máquinas
eletrônicas, que dará uma receita
de R$ 70 milhões por ano.
O decreto que está sendo preparado prevê que o Indesp irá contratar a CEF para fiscalizar as instalações das casas de bingo, as máquinas eletrônicas, a venda das
cartelas e a destinação dos 7% para
as entidades esportivas. Para controlar a receita, as cartelas trarão
um selo com código de barras.
Pela minuta do decreto, a CEF
vai auditar a contabilidade dos
bingos, checar os comprovantes de
recolhimento de impostos e conferir a entrega dos prêmios.
Os proprietários das casas de
bingo não admitem que a Caixa tenha acesso à sua contabilidade,
pois a vêem como concorrente.
O empresário Alexandre Araújo,
do Bingo Arpoador (o maior do
Rio de Janeiro) e vice-presidente
do Sindicato dos Donos de Bingo
do Estado do Rio, diz que as loterias da CEF são administradas por
uma empresa privada, a Getech,
que, segundo ele, é a maior operadora privada de jogos do mundo.
Os governos estaduais estão se
mobilizando para tentar abortar o
projeto de Greca. A Able (Associação Brasileira das Loterias Estaduais) convocou uma reunião para
a próxima terça-feira para discutir
uma estratégia comum.
O presidente da Able e da Lotece
(Loteria do Estado do Ceará), José
da Rocha Girão, diz que os Estados
aplicam seus 3% sobre o faturamento dos bingos em projetos sociais. A verdade é que os governos
estaduais não querem abrir mão
da receita. Em 98, a Loterj (Rio) recebeu R$ 6,009 milhões.
Os atletas financiados pelos bingos serão convocados por seus patrocinadores para reforçar o movimento contra o projeto. O presidente da Federação de Atletismo
do Estado do Rio, Francisco Carvalho, diz que a entidade vai aderir
à pressão, porque recebe R$ 200
mil por mês do Bingo Arpoador.
Texto Anterior: Livros Jurídicos Próximo Texto: Padrinho de "fantasma" é cúmplice de estelinato Índice
|