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EM BUSCA DE UMA FAMÍLIA
"Órfãos" lutam por uma vida normal
ALESSANDRA BLANCO
da Reportagem Local
Thompson, 12, e André, 12,
"detestam" ir à escola toda vez
que se aproxima o Dias das Mães
ou o Dia dos Pais.
Como todos os outros alunos,
eles fazem presentes manuais
que deveriam entregar em casa,
mas têm de enfrentar os amigos
que perguntam quem eles vão
presentear. Para eles, essas cobranças são ainda piores do que
quando brigam com algum colega e sempre acabam sendo chamados de "Aids".
Os dois vivem há quatro anos
na Casa Siloé, que trata de 28
crianças, filhas de pais soropositivos (que têm o vírus da Aids) e
que não têm mais condições de
cuidar delas. Os dois também
têm famílias -irmãos, tios, primos-, recebem visitas esporádicas e, às vezes, vão passar as férias com eles, mas não ficam porque as famílias não têm nem
mesmo condições de pagar o coquetel que eles têm de tomar diariamente. Eles sonham em ser
adotados.
"Se eu fosse adotado, poderia
ter um quarto só para mim, videogame, skate e bicicleta", diz
André.
Segundo o padre Valeriano
Paitoni, que administra a Casa
Siloé, a convivência das crianças
na escola -metade delas em um
colégio particular de freiras e a
outra metade em uma escola municipal- é
relativamente tranquila.
Um pai retirou seu filho do colégio ao saber que crianças soropositivas estudavam lá, já houve
alguns abaixo-assinados para
que eles saíssem e, recentemente,
novos problemas começaram a
surgir.
"Um dos garotos beijou uma
menina na boca, ela contou para
os pais, que fizeram um bafafá.
Outro menino distribuiu algumas camisinhas para os amigos e
novamente houve confusão",
contra o padre.
"Se não transar de camisinha
pega Aids? Meu pai transou sem
camisinha", diz André no meio
da entrevista. "Meu pai, não. Ele
usava drogas", conta Thompson.
E nenhum dos dois teve a sorte
de Lucas, 2, ou de Taís, 1, que negativaram no exame de HIV (vírus da Aids) e estão sendo adotados. "Algumas crianças estão começando a ser adotadas mesmo
não tendo negativado, é um
avanço, mas ainda muito difícil",
diz o padre.
Lucas está morando há um ano
com Sandra de Carvalho Gouvea,
43, e seu marido, Sérgio Martins
Gouvea, 47, que aguardam a permissão judicial para a adoção.
Sua mãe deu à luz na Casa da Mãe
Solteira e o entregou a um juiz
porque sabia que estava doente.
"Desde a primeira vez que o vimos já sabíamos que queríamos
ficar com ele. Conversamos com
nossos dois filhos, de 18 e 22
anos, que aprovaram na hora e
hoje são os padrinhos dele", conta Sandra.
Mesmo estando tanto tempo
com o casal, toda vez que Lucas
volta na instituição em que morava não solta da mão da "mãe"
nem come junto com as outras
crianças. "Ele tem medo de ficar
lá, como ficou tantas outras vezes
até conseguirmos ter sua guarda", conta Sandra.
O casal diz que vai contar "tudo" para o menino quando ele
crescer, mas ninguém mais, ou
seja, escola, amigos, precisa saber, para que ele leve uma vida
normal.
Na Casa Siloé, várias outras
crianças esperam ter a mesma
sorte que Lucas.
Jessica, 7, seus irmãos Ingrid, 8,
e Cleiton, 6, e sua prima Alane, 7,
estão na instituição há um ano e
um mês. As mães deles, duas irmãs, morreram de Aids. Nem
mesmo a família sabe como contraíram a doença.
A avó das crianças mora no Paraná, não tem condições de criá-las e só consegue visitá-las poucas vezes por ano. Elas sabem
que suas mães morreram e, no
início, tiveram dificuldade de
adaptação. Suas chances de adoção são poucas. Elas não negativaram no teste de HIV.
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