São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
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AMBIENTE
Dos 93 pilares de aço que sustentam estrutura submarina, 72 apresentam problemas de corrosão e fadiga
Emissário de Ipanema corre risco
de ruir

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
O emissário submarino de Ipanema está prestes a ter um colapso e ruir. Dos 93 pilares de aço que sustentam os 4.350 m da tubulação de concreto, 72 apresentam problemas que vão de um processo inicial de corrosão até fraturas causadas por fadiga de material.
Com as estruturas abaladas por causa da fadiga do material, os pilares podem ruir sob o impacto de ondas fortes como as que atingiram o Rio durante a semana.
Desde 1991, três pilares já ruíram. Dois passaram por obras de recuperação -o primeiro, em 1991, reparado pela Coppe/UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro); o segundo, este ano, consertado pela Petrobrás.
Em 1994, o penúltimo pilar da estrutura do emissário se rompeu, derrubando a tubulação que transporta o esgoto até alto-mar e até hoje não foi consertado. Por causa do rompimento do pilar 609, que fica a poucos metros do local de lançamento dos dejetos do emissário, a tubulação de concreto que ele sustentava tombou no fundo do mar e sofreu fissuras.
Há vazamento de esgoto no local, mas, por estar próximo da área de dispersão, não há risco de a poluição atingir as praias.
Um relatório detalhado sobre as condições estruturais do emissário submarino feito em 1991 pela Coppe já apontava para o risco de colapso total do sistema.
"Os pilares vão cair um a um. Já fui chamado para conversas por todos os secretários de obras desde a gestão Brizola (1991-94). Explico o que está acontecendo e nada é feito", afirma o engenheiro Ronaldo Battista, professor do programa de engenharia civil da Coppe.
Battista, responsável pelos projetos de recuperação estrutural da ponte Rio-Niterói e do estádio do Maracanã, entre outros, afirma que os problemas estruturais do emissário foram causados por um "lapso" no projeto, feito por engenheiros franceses.
Dois aspectos, na avaliação do engenheiro, não teriam sido corretamente avaliados. O primeiro, o impacto constante das ondas de pequeno porte sobre a estrutura; o segundo, a existência de bolsões de argila orgânica, material que favorece a corrosão dos pilares.
De acordo com Battista, a trepidação natural do emissário, somada à frequência das ondas pequenas, causa o que se chama de amplificação dinâmica da trepidação.
"Se as ondas fossem maiores, mas com intervalos maiores de tempo, a estrutura teria mais tempo para se recuperar. Como isso não acontece, há a fadiga do material", explica o engenheiro.
De acordo com o relatório da Coppe, as ondas na praia de Ipanema têm em média 2 m de altura e surgem em ciclos de seis segundos.


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