São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
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RIO
Ela voltou atrás após visita de organizações da Igreja Católica
T.G.S., 18, desiste de fazer um aborto autorizado pela Justiça

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Convencida por organizações da Igreja Católica, T.G.S., 18, desistiu de fazer o aborto que chegou a ser autorizado pela Justiça. Ela engravidou em consequência do estupro sofrido em 13 de março em Vassouras (a 116 km do Rio).
No mês passado, em entrevista à Folha, T. estava irredutível na decisão de ser submetida a uma cirurgia para a interrupção da gravidez indesejada, que está completando quase três meses.
Há duas semanas, ela foi localizada em Vassouras por representantes dos grupos católicos Movimento Pró-Vida e Renovação Carismática.
Os emissários religiosos passaram dois dias tentando convencê-la a desistir do aborto. T. acabou mudando de idéia. "Desisti de tirar porque vi que ter o bebê é o melhor", afirmou.
T. deve morar agora no Rio, no abrigo "Amparo Maternal", mantido por católicos na zona norte carioca. A casa acomoda grávidas que não têm onde ficar.
"Achei legal vir para o Rio porque é uma forma de ter atendimento. Quero ter tudo o que for possível. Eles falaram em trabalho e estudo", disse.
A cirurgia para a interrupção da gravidez chegou a ser autorizada pelo juiz de Vassouras, João Carlos Corrêa.
A decisão foi cancelada pela 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, que concedeu liminar em habeas corpus impetrado pelo deputado estadual Carlos Dias, vice-líder do PFL na Assembléia Legislativa do Rio.
Membro da Renovação Carismática e do Movimento em Defesa da Vida da Arquidiocese do Rio, Dias, 39, insistirá na ação judicial mesmo tendo a vítima desistido do aborto.
"Quero que o habeas corpus vá a julgamento para que a vitória seja mais expressiva ainda. É um habeas corpus em favor do direito à vida do nascituro (ser humano já concebido)", disse Dias.
O deputado anunciou que matriculará T. em uma escola. Ela cursa a 7ª série no colégio Centenário (Vassouras), mas desde o estupro não ia às aulas.
Dias e os grupos católicos prometem fazer com que a jovem aprenda pequenas tarefas durante a gestação, como costura.
A idéia agradou a T., que falou com satisfação da possibilidade de fazer as roupas do bebê. "Prefiro menina, mas ainda não escolhi o nome", afirmou.


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