São Paulo, Segunda-feira, 14 de Junho de 1999
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FLAGRANTE
Delegado mantinha armas irregulares na delegacia
Policiais são indiciados por extorsão e formação de quadrilha

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Um delegado de Polícia Civil, três policiais e três informantes estão presos desde sexta-feira e já foram indiciados sob a acusação de formação de quadrilha e extorsão na 141ª DP (Delegacia de Polícia), em São Fidélis (cidade a 285 km do Rio de Janeiro).
A delegacia chegou a ficar interditada por quase todo o sábado, com policiais militares guardando o prédio e os presos detidos na carceragem.
A prisão dos policiais e dos informantes resultou de denúncia recebida pelo promotor de Itaperuna, Marcelo Lessa Bastos.
Segundo o promotor, um fugitivo o procurou para dizer que o delegado de São Fidélis, Paulo Gil da Rocha Faria, o ameaçara de morte e intimidara sua família.
Com as informações do fugitivo -que acabou se entregando-, o promotor obteve mandado de busca para vistoriar a 141ª DP.
PMs encarregados da operação precisaram arrombar a delegacia, porque os policiais civis que estavam de plantão não queriam abrir as portas.
Segundo a PM, foram achadas cerca de 20 armas irregulares, muita munição, placas frias de carro e uma máscara. Três informantes circulavam pela delegacia, portando armas sem licença.
"Encontrei os policiais claramente achacando três caminhoneiros detidos em vistorias. Fiquei estarrecido. Todos foram presos em flagrante", contou o promotor, que disse temer represálias, apesar de há cinco anos viver sob proteção policial.

Maus-tratos
Os cerca de 30 presos que estavam na carceragem e moradores de São Fidélis também relataram ao promotor que eram vítimas de achaques e maus-tratos por parte dos policiais.
Além do delegado Rocha Faria, foram presos o detetive Haroldo Sodré, o carcereiro Emílson Teixeira e o escrivão Marco Aurélio da Silva. Também foram presos os informantes Edílson Rocha Júnior, Humberto Luís Vicente e Cristóvão Genebra Cruz.
Levados para a cidade de Campos, os presos só prestaram depoimentos no 22º Batalhão de Polícia Militar quando o secretário Estadual da Segurança, Josias Quintal, chegou ao local.
Ontem de manhã, os policiais foram transferidos para a prisão especial Ponto Zero, em Benfica (zona norte do Rio). Além do processo criminal, eles responderão a inquérito administrativo que poderá resultar em demissões.
O chefe da Polícia Civil, Carlos Alberto D'Oliveira, disse que um delegado está respondendo interinamente pela 141ª DP.
A Secretaria da Segurança deve indicar hoje o novo delegado de São Fidélis.
"Quero deixar claro que a Polícia Civil não compactua com as irregularidades que os policiais foram flagrados praticando. Quero dizer também que, se tivéssemos sido avisados pelo promotor, teríamos ido até lá com ele. A diligência que ele fez deveria ter sido comunicada", afirmou D'Oliveira.


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