São Paulo, terça, 14 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Laboratório apresenta 51 irregularidades

Patrícia Snatos/Folha Imagem
Fiscais da Vigilância Sanitária recolhem remédios do laboratório Endoterápica, que foi fechado ontem


RONI LIMA
da Sucursal do Rio

A Coordenação de Fiscalização Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde do Rio fechou ontem o laboratório Endoterápica do Brasil Ltda., no Rocha (zona norte do Rio), por apresentar 51 supostas irregularidades, como falta de controle de qualidade da produção.
Um dos sócios do laboratório -que fabricava antibióticos e analgésicos, entre outros- é Márcio Eustáquio Ribeiro Rodrigues, 36, preso na sexta passada, em Belo Horizonte, por manter um laboratório clandestino na capital mineira.
Na casa ao lado do Endoterápica, foi interditada ontem a distribuidora Linolab Comércio de Material Hospitalar, que vendia aparelhos e kits para diagnóstico de Aids, hepatite e outras doenças.
Embora vendesse para hospitais públicos, a Linolab não tinha licença da Secretaria de Estado de Saúde para funcionar.
A coordenadora da fiscalização, Maria de Lourdes de Oliveira Moura, afirmou que o laboratório Endoterápica foi fechado em definitivo, já que apresentou 51 irregularidades consideradas "muito sérias" de acordo com as normas do Programa Nacional de Inspeção à Indústria Farmacêutica.
Segundo ela, não havia indícios de falsificação de medicamentos, mas os fiscais não encontraram qualquer garantia de que os remédios -como penicilina e dipirona- produzidos tenham a qualidade necessária.
Maria de Lourdes afirmou que o laboratório não tinha boas condições de esterilização e não possuía uma fórmula padrão para a fabricação dos 14 medicamentos ali produzidos. "Não há garantia de que os princípios ativos estejam na dosagem correta."
Segundo Maria de Lourdes, o Endoterápica não tinha normas de controle da entrada da matéria-prima, da embalagem e do produto acabado. Ela disse que parte da produção era feita em outro laboratório, que deverá ser vistoriado em breve.
Não foi apresentada também para os fiscais a autorização do Ministério da Saúde para que os medicamentos fossem produzidos no local. O laboratório não venderia remédios para a rede de farmácias, mas para hospitais.
Segundo a gerente do laboratório, Marilda Freitas Ruback, as ampolas e pílulas produzidas só eram vendidas para hospitais públicos e privados. Ela afirmou, porém, que um lote de antimaláricos fora vendido para a empreiteira Odebrecht.
Por supostamente não vender para farmácias -esse dado ainda será checado pelos fiscais-, o Endoterápica não produzia remédios com marcas, mas apenas com os nomes genéricos das substâncias, como o antibiótico benzatina.
Marilda disse que trabalhava ali havia um ano e que estava fazendo o possível para colocar o laboratório em ordem. Segundo ela, o Endoterápica passava por dificuldades financeiras, e não havia sido possível comprar alguns equipamentos sofisticados para testes da concentração dos produtos.
O farmacêutico responsável, Jorge Luiz Pereira Martins, disse que "infelizmente" não podia garantir se os remédios vendidos faziam efeito ou não. Como não realizava os testes necessários, Martins disse que confiava no laudo dos fornecedores das substâncias usadas na fabricação.
A direção da distribuidora Linolab se recusou a falar com os jornalistas ontem.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.