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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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MALES DA TERRA

Turmas enfrentam vento, frio e mau cheiro em acampamento do MST

"É preciso material e estrutura"

João Wainer/Folha Imagem
Alfredo José dos Santos, que quer aprender a escrever para registrar as letras que compõe


DA REPORTAGEM LOCAL

Passa das 18h30, a temperatura é de 10C. Sob a luz fraca de uma lâmpada e rajadas de vento, Edicléia Maria Ferreira, 15, distribui folhas amassadas para os alunos da turma de alfabetização do acampamento Terra Sem Males, do MST. O giz, diz a menina, que auxilia no ensino de adultos, é utilizado até que a unha encoste no quadro negro.
Com o rosto quase grudado no caderno, Antônio Rodrigues de Souza, 38, começa a reproduzir o relógio que o educador desenhou. "É a primeira vez que me dão oportunidade para estudar", diz. "Eu quero aprender para quando tiver minha terra. Vou plantar, colher, mas também marcar as coisas, dividir."
A turma, alojada em um barracão construído com bambus e lonas, tomado pelo cheiro das fossas, é uma das que aguardam o reforço do Brasil Alfabetizado.
"Mais do que dinheiro, precisamos de material, estrutura", afirma Cícero Silva, 41, um dos educadores voluntários do acampamento, que fica a cerca de 30 km do centro, na região oeste da cidade de São Paulo.
Com a promessa de auxílio do programa, o número de turmas de alfabetização do Terra Sem Males e do acampamento vizinho, o Irmã Alberta, foi de três para oito, explicam os educadores. Mas o dinheiro ainda não veio por causa de problemas nos cadastros dos alunos.
Nas aulas é usada a metodologia do educador Paulo Freire.
Segundo dados da coordenação nacional de educação do MST, entre 60% e 70% dos mais de 1,5 milhão de integrantes do movimento são analfabetos.
"Eles têm de aprender a ler para assinar os papéis no Incra e saber o que estão assinando, afirma Enedina de Andrade, coordenadora nacional de educação do movimento.
Alfredo José dos Santos, 53, quer outra coisa. Fã de Martinho da Vila, deseja registrar as letras de suas músicas. "Quando tenho a idéia, já canto. Vem de dentro de mim, sem mais nem menos. Quer ouvir?", e emenda com um samba. "Mas algumas letras eu esqueci." (FL)


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