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GUERRA SEM TRINCHEIRA
Traficante mais procurado do Estado, Gangan foi cercado em favela; chefe da Polícia Civil comandou ação
Líder da ADA é morto pela polícia no Rio
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
O traficante mais procurado do
Rio, Irapuan David Lopes, o Gangan, foi morto na manhã de ontem por policiais civis no morro
de São Carlos (Estácio, zona central), seu principal reduto. Ele tinha 34 anos.
A ação foi comandada pessoalmente pelo chefe da Polícia Civil,
delegado Álvaro Lins, que decidiu
ir à favela por temer que haveria
vazamento de informações.
Lins disse não ter dúvidas de
que Gangan tinha informantes
dentro da polícia.
Líder da facção criminosa ADA
(Amigo dos Amigos), Gangan dominava o tráfico em pelo menos
oito favelas cariocas e de Niterói
(cidade a 15 km do Rio), além de
ser o principal fornecedor de drogas e armas para a favela da Rocinha (São Conrado, zona sul).
Ele foi apontado como responsável pelo ataque ao prédio da
Prefeitura do Rio de Janeiro, em
junho de 2002, quando a fachada
do edifício foi atingida por cerca
de 150 tiros de fuzil. Na época, o
prefeito Cesar Maia chegou a pedir a decretação de estado de defesa -medida que permitiria a prisão de suspeitos sem a necessidade de flagrante ou ordem judicial- no Rio.
Tiroteio
De acordo com Álvaro Lins,
Gangan estava escondido em
uma casa que pertencia a uma de
suas namoradas. Por volta das 6h,
nove policiais cercaram o imóvel
e viram o traficante descendo as
escadas.
Ao perceber a presença de policiais, Gangan, que estava armado
com uma pistola, tentou fugir. Na
mesma hora, cúmplices do traficante fizeram vários disparos em
direção aos policiais.
Na troca de tiros, Gangan foi baleado na barriga e nas costelas.
Chegou a ser levado por policiais
para o hospital Souza Aguiar
(centro), onde morreu.
Durante o trajeto até o hospital,
o traficante chegou a dizer: "Meu
Deus, me ajude", segundo o relato
de policiais.
Depois que ele foi ferido, policiais ouviram pelo radiotransmissor de Gangan que seus cúmplices
tentariam resgatá-lo.
O próprio Álvaro Lins pediu reforço policial pelo rádio, e a favela
foi toda cercada por policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de
Choque.
No confronto, David Gonçalves
Vieira, 18, que voltava de uma festa, foi atingido por uma bala perdida na coxa esquerda. Ele não
corre risco de morte.
Protestos
A morte de Gangan fez com que
traficantes ordenassem o fechamento do comércio nas imediações do morro do Querosene (Rio
Comprido, zona central). Duas
escolas municipais no bairro também não funcionaram.
Os policiais que participaram
da operação deverão ser promovidos, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
A operação que resultou na
morte do traficante foi resultado
de uma investigação conjunta da
22ª Delegacia de Polícia (Penha,
zona norte) e do Serviço de Repressão a Entorpecentes da Zona
Oeste, iniciada há aproximadamente três meses.
De acordo com o titular da 22ª
Delegacia, Ricardo Hallak, há 15
dias os policiais descobriram que
Gangan estava freqüentando a casa para encontros amorosos e
passaram a monitorá-lo.
O mesmo imóvel onde ele foi
morto já havia sido vasculhado
numa busca policial há cerca de
dois meses.
L. O. A., apontada como a dona
da casa e namorada de Gangan,
chegou a ser detida pela polícia,
mas foi liberada depois. Seu advogado, Fuad Zacarias, negou que
ela tivesse envolvimento com o
traficante.
O policiamento foi reforçado
em todo o complexo de São Carlos para evitar manifestações violentas pela morte do traficante.
Até o final da tarde, o corpo de
Gangan permanecia no Instituto
Médico Legal (IML). O enterro
deverá ser hoje.
Assistencialista
Além do complexo de São Carlos e do morro do Querosene,
Gangan também comandava o
tráfico nos morros da Coroa (Catumbi, zona central), Azul (Flamengo, zona sul), dos Macacos
(Vila Isabel, zona norte), da Serrinha (Madureira, subúrbio) e do
Estado (Niterói).
O traficante, que fugiu da cadeia
em 1989 e não foi preso desde então, tinha também influência na
Rocinha e em favelas de Macaé
(município a 188 km da capital
fluminense).
Somente no complexo de São
Carlos, faturaria R$ 200 mil por
semana com a venda de drogas,
segundo estimativas da polícia.
Sua ascensão no tráfico ocorreu
na década de 1990, com a prisão
do traficante Adílson Balbino, então chefe no São Carlos. No ano
passado, Balbino foi solto e acabou morto a mando de Gangan.
O líder do ADA adotava uma
política assistencialista nas favelas
que dominava. Anteontem, ele
organizou uma festa do Dia das
Crianças no São Carlos.
O traficante também era violento. Em 12 de julho, por exemplo,
ordenou que matassem e esquartejassem Celso Rui Timóteo, 19, e
não permitiu que a polícia subisse
o morro para resgatar o corpo.
O pai da vítima teve de remover
o cadáver do filho em um carrinho de supermercado.
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