São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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ENTREVISTA

JOÃO GRANDINO RODAS

USP vai parar de crescer e investir na sua modernização

Novo reitor diz que o fundamental é melhorar a estrutura e reabrir o diálogo com professores, funcionários e alunos

Rodrigo Paiva/Folha Imagem
João Grandino Rodas, escolhido anteontem novo reitor da USP, em entrevista na Faculdade de Direito, no largo São Francisco

FÁBIO TAKAHASHI
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O reitor eleito da USP (Universidade de São Paulo), João Grandino Rodas, 64, diz que a instituição deve parar de expandir vagas nos cursos de graduação neste momento e, em vez disso, concentrar-se na melhoria de laboratórios, prédios, bibliotecas e equipamentos.
Grandino, que ficará quatro anos à frente da mais conceituada universidade do país, foi escolhido anteontem pelo governador José Serra (PSDB).
Ele era o segundo na lista tríplice. Foi a primeira vez desde o governo Paulo Maluf, em 1981, que um governador não escolheu o primeiro colocado. Grandino, 64, é o diretor da Faculdade de Direito da USP.
Ele diz que um de seus primeiros compromissos será se reunir com as entidades que representam os alunos, os professores e os funcionários para dizer que "há abertura para diálogo".
Os últimos quatros anos, sob a gestão de Suely Vilela, foram marcados por conflitos -a reitoria foi invadida e houve confronto entre polícia e alunos.
Na histórica Faculdade de Direito, no largo São Francisco, a secretária de Grandino passou todo o dia recebendo telefonemas de congratulações, flores e vinhos. Professores e juízes chegaram a fazer fila para cumprimentá-lo. Foi várias vezes tratado de "magnífico" -o tratamento que as regras de etiqueta dão aos reitores. "Mas você vai ver, vamos fazer uma reitoria simples, sem essa de carro preto para o reitor."

 

FOLHA - O sr. pretende aumentar as vagas no vestibular da USP?
JOÃO GRANDINO RODAS -
Não. Nossa graduação dobrou nos últimos oito anos. A prioridade número um é fazer uma adequação dos prédios e dos meios humanos para que a graduação funcione bem. Seria inaceitável aumentar o número de vagas quando o necessário é melhorar nossas condições atuais.
Não podemos aumentar simplesmente, sem a preocupação com a qualidade. Só depois poderemos pensar num aumento.

FOLHA - O número de inscritos no vestibular da USP tem caído. Isso o preocupa?
GRANDINO -
Isso não é absolutamente preocupante. O financiamento público em faculdades particulares [o Prouni, do governo federal] explica a queda. De qualquer forma, é preciso manter a atenção.

FOLHA - Qual será sua primeira medida como reitor?
GRANDINO -
Vou colocar na internet os gastos da USP e os documentos da reitoria. A transparência é importante. Sei que não acaba com todos os problemas e tensões, mas ajuda a restaurar a confiança na reitoria. E isso não é só para o governo. É principalmente para a sociedade, que paga os impostos [o ICMS financia a USP].

FOLHA - Nos últimos quatro anos, houve diversos confrontos na USP. Como se evita essa situação?
GRANDINO -
O que vem acontecendo é a violência de ambos os lados. Da reitoria, quando chama a polícia, mesmo que amparada por ordem judicial. E de certos grupos, que fazem piquetes, impedem o direito de ir e vir e tomam salas e prédios. Falta negociação direta. Mas, para que isso ocorra, é preciso que as partes em litígio deixem de usar a força. No âmbito internacional, é o que se chama de cessar-fogo. Vou tentar mudar o espírito reinante.

FOLHA - Na campanha, o que significou não ser o candidato da reitora?
GRANDINO -
Não gostaria de criar tensões extras, mas digo que a diferença de tratamento é grande quando você passa de colaborador a concorrente.

FOLHA - O fato de o sr. ter ficado em segundo lugar na lista tríplice não diminui sua legitimidade?
GRANDINO -
Isso é legal [escolher o segundo nome da lista tríplice]. A própria reitora nomeou pelo menos três ou quatro diretores de unidades [também são escolhidos de uma lista tríplice] que não haviam ficado em primeiro lugar.

FOLHA - Dizem que o sr. foi o escolhido, entre outras razões, por ter ligações com o PSDB...
GRANDINO -
Nós dois [Grandino e Glaucius Oliva, o primeiro colocado] fomos buscar apoio. Se ele não teve do PSDB, foi porque não conseguiu. Mas tive apoio também de meios acadêmicos. E pesou minha experiência. Tenho 39 anos na universidade, lecionei no exterior, participei de negociações internacionais e estive em funções públicas nomeado pelos governos Itamar, Fernando Henrique e Lula. O percurso do Glaucius dentro e fora da USP é menor que o meu, pois tem menos idade [49 anos]. O governador considerou o conjunto. Dizer que tudo ocorreu por ser amigo do rei é um simplismo inaceitável. Mesmo porque liguei para ele [Glaucius] e deixei recado no celular dizendo que ele pode participar [da reitoria].


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