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ENTREVISTA
JOÃO GRANDINO RODAS
USP vai parar de crescer e investir na sua modernização
Novo reitor diz que o fundamental é melhorar a estrutura e reabrir o diálogo com professores, funcionários e alunos
Rodrigo Paiva/Folha Imagem
![](../images/c1411200902.jpg) |
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João Grandino Rodas, escolhido anteontem novo reitor da USP, em entrevista na Faculdade de Direito, no largo São Francisco
FÁBIO TAKAHASHI
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O reitor eleito da USP (Universidade de São Paulo), João
Grandino Rodas, 64, diz que a
instituição deve parar de expandir vagas nos cursos de graduação neste momento e, em
vez disso, concentrar-se na melhoria de laboratórios, prédios,
bibliotecas e equipamentos.
Grandino, que ficará quatro
anos à frente da mais conceituada universidade do país, foi
escolhido anteontem pelo governador José Serra (PSDB).
Ele era o segundo na lista tríplice. Foi a primeira vez desde o
governo Paulo Maluf, em 1981,
que um governador não escolheu o primeiro colocado.
Grandino, 64, é o diretor da
Faculdade de Direito da USP.
Ele diz que um de seus primeiros compromissos será se reunir com as entidades que representam os alunos, os professores e os funcionários para dizer
que "há abertura para diálogo".
Os últimos quatros anos, sob
a gestão de Suely Vilela, foram
marcados por conflitos -a reitoria foi invadida e houve confronto entre polícia e alunos.
Na histórica Faculdade de
Direito, no largo São Francisco,
a secretária de Grandino passou todo o dia recebendo telefonemas de congratulações,
flores e vinhos. Professores e
juízes chegaram a fazer fila para cumprimentá-lo. Foi várias
vezes tratado de "magnífico"
-o tratamento que as regras de
etiqueta dão aos reitores. "Mas
você vai ver, vamos fazer uma
reitoria simples, sem essa de
carro preto para o reitor."
FOLHA - O sr. pretende aumentar
as vagas no vestibular da USP?
JOÃO GRANDINO RODAS - Não.
Nossa graduação dobrou nos
últimos oito anos. A prioridade
número um é fazer uma adequação dos prédios e dos meios
humanos para que a graduação
funcione bem. Seria inaceitável
aumentar o número de vagas
quando o necessário é melhorar nossas condições atuais.
Não podemos aumentar simplesmente, sem a preocupação
com a qualidade. Só depois poderemos pensar num aumento.
FOLHA - O número de inscritos no
vestibular da USP tem caído. Isso o
preocupa?
GRANDINO - Isso não é absolutamente preocupante. O financiamento público em faculdades particulares [o Prouni, do
governo federal] explica a queda. De qualquer forma, é preciso manter a atenção.
FOLHA - Qual será sua primeira
medida como reitor?
GRANDINO - Vou colocar na internet os gastos da USP e os documentos da reitoria. A transparência é importante. Sei que
não acaba com todos os problemas e tensões, mas ajuda a restaurar a confiança na reitoria. E
isso não é só para o governo. É
principalmente para a sociedade, que paga os impostos [o
ICMS financia a USP].
FOLHA - Nos últimos quatro anos,
houve diversos confrontos na USP.
Como se evita essa situação?
GRANDINO - O que vem acontecendo é a violência de ambos os
lados. Da reitoria, quando chama a polícia, mesmo que amparada por ordem judicial. E de
certos grupos, que fazem piquetes, impedem o direito de ir
e vir e tomam salas e prédios.
Falta negociação direta. Mas,
para que isso ocorra, é preciso
que as partes em litígio deixem
de usar a força. No âmbito internacional, é o que se chama
de cessar-fogo. Vou tentar mudar o espírito reinante.
FOLHA - Na campanha, o que significou não ser o candidato da reitora?
GRANDINO - Não gostaria de
criar tensões extras, mas digo
que a diferença de tratamento é
grande quando você passa de
colaborador a concorrente.
FOLHA - O fato de o sr. ter ficado
em segundo lugar na lista tríplice
não diminui sua legitimidade?
GRANDINO - Isso é legal [escolher o segundo nome da lista
tríplice]. A própria reitora nomeou pelo menos três ou quatro diretores de unidades [também são escolhidos de uma lista tríplice] que não haviam ficado em primeiro lugar.
FOLHA - Dizem que o sr. foi o escolhido, entre outras razões, por ter ligações com o PSDB...
GRANDINO - Nós dois [Grandino e Glaucius Oliva, o primeiro
colocado] fomos buscar apoio.
Se ele não teve do PSDB, foi
porque não conseguiu. Mas tive
apoio também de meios acadêmicos. E pesou minha experiência. Tenho 39 anos na universidade, lecionei no exterior,
participei de negociações internacionais e estive em funções
públicas nomeado pelos governos Itamar, Fernando Henrique e Lula. O percurso do Glaucius dentro e fora da USP é menor que o meu, pois tem menos
idade [49 anos]. O governador
considerou o conjunto. Dizer
que tudo ocorreu por ser amigo
do rei é um simplismo inaceitável. Mesmo porque liguei para
ele [Glaucius] e deixei recado
no celular dizendo que ele pode
participar [da reitoria].
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