São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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NARCOTRÁFICO

Investigação, centrada em quadrilha de traficantes, acabou revelando esquema de venda de habeas corpus

PF apurou envolvimento de juízes por acaso

ALESSANDRO SILVA
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

A Polícia Federal descobriu por acaso o suposto esquema de venda de habeas corpus (medida judicial que garante a liberdade) para narcotraficantes que envolveria um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e dois desembargadores do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª região.
""A polícia mirou no que viu e acertou no que não viu", disse ontem uma das autoridades que participaram da Operação Diamante, a ação policial que resultou na prisão de 23 pessoas de uma das principais quadrilhas de narcotraficantes do país, liderada pelo fazendeiro Leonardo Dias Mendonça.
Isso porque foram grampeados apenas telefones de traficantes, com o objetivo de investigar a quadrilha. Durante esse trabalho, realizado nos últimos três anos, apareceram ligações do grupo com o deputado federal Pinheiro Landim (PMDB-CE) e seu assessor Igor Santos da Silveira, filho do desembargador do TRF da 1ª região Eustáquio Silveira.
Nesses diálogos estão os detalhes das transações para a concessão de habeas corpus para pessoas da quadrilha, principalmente Mendonça. Essas conversas colocaram o ministro Vicente Leal de Araújo, do STJ, e os desembargadores Silveira e Fernando Tourinho Neto, ex-presidente do TRF, na mira de uma investigação paralela, que agora deverá ser feita pelo STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília.

Negócios
Não se sabe ainda como foi criado no Judiciário esse ""balcão de negócios", como o caso é chamado em Brasília. O relatório da Justiça Federal de Goiânia, que embasou a decretação das prisões da última semana, afirma que pessoas ligadas ao deputado faziam as intermediações com juízes.
Desde novembro de 99, Mendonça conseguiu três habeas corpus -duas vezes pelo TRF e uma pelo STJ- após ser preso por suposto envolvimento com o tráfico de drogas. Em uma dessas vezes, ele conseguiu de volta um avião que havia sido apreendido pela Polícia Federal, recolhido de novo esta semana em Goiânia.
Os magistrados não aparecem nas gravações falando com os traficantes. Na maioria dos diálogos há códigos, como ""touro", que, para a polícia, é uma referência ao desembargador Tourinho Neto, e ""velho", suposta menção ao ministro Vicente Leal.
Há gravações em que o deputado dá orientações a Mendonça. Além disso, há conversas sobre preços, formas de pagamentos e indicação de épocas mais apropriadas para entrar com os pedidos de libertação.
O relatório da PF sobre a Operação Diamante indica ainda indícios de influência desse esquema na Justiça Estadual de Mato Grosso, no município de Água Boa, onde Mendonça está para ser sentenciado em um processo de outubro de 2000 -apreensão de 327 kg de cocaína.


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