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NARCOTRÁFICO
Investigação, centrada em quadrilha de traficantes, acabou revelando esquema de venda de habeas corpus
PF apurou envolvimento de juízes por acaso
ALESSANDRO SILVA
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA
A Polícia Federal descobriu por
acaso o suposto esquema de venda de habeas corpus (medida judicial que garante a liberdade) para narcotraficantes que envolveria
um ministro do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) e dois desembargadores do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª região.
""A polícia mirou no que viu e
acertou no que não viu", disse ontem uma das autoridades que
participaram da Operação Diamante, a ação policial que resultou na prisão de 23 pessoas de
uma das principais quadrilhas de
narcotraficantes do país, liderada
pelo fazendeiro Leonardo Dias
Mendonça.
Isso porque foram grampeados
apenas telefones de traficantes,
com o objetivo de investigar a
quadrilha. Durante esse trabalho,
realizado nos últimos três anos,
apareceram ligações do grupo
com o deputado federal Pinheiro
Landim (PMDB-CE) e seu assessor Igor Santos da Silveira, filho
do desembargador do TRF da 1ª
região Eustáquio Silveira.
Nesses diálogos estão os detalhes das transações para a concessão de habeas corpus para pessoas da quadrilha, principalmente Mendonça. Essas conversas colocaram o ministro Vicente Leal
de Araújo, do STJ, e os desembargadores Silveira e Fernando Tourinho Neto, ex-presidente do
TRF, na mira de uma investigação
paralela, que agora deverá ser feita pelo STF (Supremo Tribunal
Federal), em Brasília.
Negócios
Não se sabe ainda como foi criado no Judiciário esse ""balcão de
negócios", como o caso é chamado em Brasília. O relatório da Justiça Federal de Goiânia, que embasou a decretação das prisões da
última semana, afirma que pessoas ligadas ao deputado faziam
as intermediações com juízes.
Desde novembro de 99, Mendonça conseguiu três habeas corpus -duas vezes pelo TRF e uma
pelo STJ- após ser preso por suposto envolvimento com o tráfico
de drogas. Em uma dessas vezes,
ele conseguiu de volta um avião
que havia sido apreendido pela
Polícia Federal, recolhido de novo
esta semana em Goiânia.
Os magistrados não aparecem
nas gravações falando com os traficantes. Na maioria dos diálogos
há códigos, como ""touro", que,
para a polícia, é uma referência ao
desembargador Tourinho Neto, e
""velho", suposta menção ao ministro Vicente Leal.
Há gravações em que o deputado dá orientações a Mendonça.
Além disso, há conversas sobre
preços, formas de pagamentos e
indicação de épocas mais apropriadas para entrar com os pedidos de libertação.
O relatório da PF sobre a Operação Diamante indica ainda indícios de influência desse esquema
na Justiça Estadual de Mato Grosso, no município de Água Boa,
onde Mendonça está para ser sentenciado em um processo de outubro de 2000 -apreensão de 327
kg de cocaína.
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