São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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RUMO AO ALTAR

Budista e evangélicos já aceitaram participar

ONGs procuram religiosos para celebrar casamento gay no Brasil

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Motivadas pela procura por casais homossexuais, duas ONGs de Brasília e Goiânia iniciaram neste mês um trabalho diferente: catalogar religiosos que aceitem celebrar "casamentos" entre pessoas do mesmo sexo.
A proposta é ter um banco de dados com representantes de vários segmentos (católico, evangélico, espírita e budista) que realizem cerimônias para "marcar religiosamente" esse tipo de união, proibida pela legislação brasileira.
Segundo Welton Trindade, presidente da ONG Estruturação, de Brasília, até quinta-feira, três religiosos, sendo um budista e dois pastores, haviam aceitado.
Os nomes serão mantidos em sigilo, afirma Trindade, para evitar preconceito ou perseguição. "Estamos tentando romper preconceitos. Querem que a religião seja monopólio heterossexual, e não é. O homossexual também sente a necessidade de marcar religiosamente sua união."
O presidente da AGLT (Associação Goiana de Gays, Lésbicas, Travestis e Bissexuais), Léo Mendes, conta que, nas reuniões semanais da ONG, com em média 30 pessoas, foi feito um levantamento informal e constatou-se que mais de 90% têm religião.
"Metade deles freqüenta a igreja. Alguns casais vivem juntos há anos e sonham em ter um casamento, mas enfrentam constrangimento e discriminação em suas igrejas", afirmou Mendes.
Muitas religiões, entre elas a católica e a islâmica, são contra o homossexualismo. No final de 2005, o Vaticano publicou, inclusive, um documento proibindo tanto a admissão em seminários como a ordenação de padres gays.
A Arquidiocese de Goiânia informou não ter conhecimento do projeto das ONGs, por isso não o comentaria. A Folha tentou falar com deputados federais da Frente Parlamentar Evangélica, mas não conseguiu localizá-los.
Por outro lado, igrejas como a norte-americana Unida de Cristo aceitam a prática e ordenam clérigos homossexuais há mais de 30 anos. Em São Paulo, a Comunidade Cristã Nova Esperança, fundada há cerca de dois anos, realizou dois "casamentos" homossexuais em 2005. "Exigimos que o casal seja cristão", diz o presidente da igreja, Wladimir Freire.
O Código Civil reconhece apenas o casamento entre homem e mulher. Em alguns Estados, porém, a Justiça tem aceito união estável de casais homossexuais. No Rio Grande do Sul, o Judiciário reconheceu a dissolução da união estável de um casal de homens, com efeito similar ao de divórcio.
Em Goiás, os cartórios não aceitam registrar união estável entre pessoas do mesmo sexo. Por isso são feitos contratos de união civil. "Se todos são iguais perante a lei, os homossexuais também têm direito à união estável e suas garantias", diz a advogada Helena Caramaschi, que atua com a AGLT.
É pequeno o rol de países que permitem legalmente o casamento gay. Entre eles estão a Espanha, onde o casal tem direito a adotar crianças, Holanda, Bélgica e Canadá. No Reino Unido é permitida a união civil, com status legal do casamento, como ocorreu com o cantor Elton John.


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