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RUMO AO ALTAR
Budista e evangélicos já aceitaram participar
ONGs procuram religiosos para celebrar casamento gay no Brasil
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Motivadas pela procura por casais homossexuais, duas ONGs de
Brasília e Goiânia iniciaram neste
mês um trabalho diferente: catalogar religiosos que aceitem celebrar "casamentos" entre pessoas
do mesmo sexo.
A proposta é ter um banco de
dados com representantes de vários segmentos (católico, evangélico, espírita e budista) que realizem cerimônias para "marcar religiosamente" esse tipo de união,
proibida pela legislação brasileira.
Segundo Welton Trindade, presidente da ONG Estruturação, de
Brasília, até quinta-feira, três religiosos, sendo um budista e dois
pastores, haviam aceitado.
Os nomes serão mantidos em
sigilo, afirma Trindade, para evitar preconceito ou perseguição.
"Estamos tentando romper preconceitos. Querem que a religião
seja monopólio heterossexual, e
não é. O homossexual também
sente a necessidade de marcar religiosamente sua união."
O presidente da AGLT (Associação Goiana de Gays, Lésbicas,
Travestis e Bissexuais), Léo Mendes, conta que, nas reuniões semanais da ONG, com em média
30 pessoas, foi feito um levantamento informal e constatou-se
que mais de 90% têm religião.
"Metade deles freqüenta a igreja. Alguns casais vivem juntos há
anos e sonham em ter um casamento, mas enfrentam constrangimento e discriminação em suas
igrejas", afirmou Mendes.
Muitas religiões, entre elas a católica e a islâmica, são contra o
homossexualismo. No final de
2005, o Vaticano publicou, inclusive, um documento proibindo
tanto a admissão em seminários
como a ordenação de padres gays.
A Arquidiocese de Goiânia informou não ter conhecimento do
projeto das ONGs, por isso não o
comentaria. A Folha tentou falar
com deputados federais da Frente
Parlamentar Evangélica, mas não
conseguiu localizá-los.
Por outro lado, igrejas como a
norte-americana Unida de Cristo
aceitam a prática e ordenam clérigos homossexuais há mais de 30
anos. Em São Paulo, a Comunidade Cristã Nova Esperança, fundada há cerca de dois anos, realizou
dois "casamentos" homossexuais
em 2005. "Exigimos que o casal
seja cristão", diz o presidente da
igreja, Wladimir Freire.
O Código Civil reconhece apenas o casamento entre homem e
mulher. Em alguns Estados, porém, a Justiça tem aceito união estável de casais homossexuais. No
Rio Grande do Sul, o Judiciário
reconheceu a dissolução da união
estável de um casal de homens,
com efeito similar ao de divórcio.
Em Goiás, os cartórios não aceitam registrar união estável entre
pessoas do mesmo sexo. Por isso
são feitos contratos de união civil.
"Se todos são iguais perante a lei,
os homossexuais também têm direito à união estável e suas garantias", diz a advogada Helena Caramaschi, que atua com a AGLT.
É pequeno o rol de países que
permitem legalmente o casamento gay. Entre eles estão a Espanha,
onde o casal tem direito a adotar
crianças, Holanda, Bélgica e Canadá. No Reino Unido é permitida a união civil, com status legal
do casamento, como ocorreu
com o cantor Elton John.
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