São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2000


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CRIMINALIDADE
Pesquisa no Rio revela que 81% dos condenados entre 18 e 24 anos tinham sustento garantido pelos pais
Pobreza não determina jovem no crime

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

Uma pesquisa inédita da Secretaria de Estado da Justiça do Rio revelou que a pobreza não é o fator determinante da criminalidade entre os jovens. O estudo mostrou que 81% dos condenados de 18 a 24 anos que ingressam no sistema penitenciário estadual tiveram o sustento de suas casas garantido pelo pai, a mãe ou ambos.
Além disso, 72% moram em casa própria (pertencente à família), e 45% afirmam ter sido criados em condições "adequadas ou muito boas". Apenas 8%, porém, completaram o 2º grau.
Os dados foram quantificados a partir do Plano Individualizado de Tratamento Penitenciário, previsto na Lei de Execuções Penais e implantado pela secretaria em setembro do ano passado.
Desde então, cerca de 400 presos que começaram a cumprir pena nos presídios do Rio foram entrevistados por uma equipe que inclui psiquiatra, psicólogo e assistente social. O objetivo é traçar o perfil biopsicossocial de cada um, para o atendimento de suas necessidades na prisão.
As entrevistas são feitas no presídio Ary Franco, em Água Santa (zona norte do Rio), onde os detentos iniciam o cumprimento da pena e são remanejados depois para outras unidades.
Até agora, a secretaria já compilou os dados referentes a 300 questionários. Desses presos, 106 (35%) têm de 18 a 24 anos.
Dentre os jovens nessa faixa etária, 60% admitiram a responsabilidade pelos delitos dos quais foram acusados.
O motivo mais citado como o que levou à criminalidade foi o desejo de consumir, com 29%, à frente até das necessidades materiais básicas, mencionadas por 21%. Já 16% atribuíram sua ação criminosa ao fato de terem sido levados a ela por outras pessoas.
Dentre os que negaram a autoria dos crimes, 46% disseram que eles foram forjados, e 12% afirmaram ter sido presos porque estavam "em más companhias".
A pesquisa revelou também que, dos 106 jovens entrevistados, 86 (81%) já tinham consumido drogas. Desses, 70 haviam tentado interromper o consumo, por perceber que ele era prejudicial, e 40 manifestaram o desejo de ser ajudados para conseguir parar.
Na opinião do superintendente de Saúde da Secretaria de Justiça, Édison Biondi, os dados do Plano Individualizado de Tratamento Penitenciário mostram que não há uma relação necessária entre a delinquência e as condições de estrutura familiar. "A família oferece uma certa estrutura, mas não consegue dar conta de tudo."
Para o coordenador da área de segurança pública do Estado, Luiz Eduardo Soares, "associar crime aos pobres, negros e favelados é reforçar estigmas sociais".


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