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CRIMINALIDADE
Pesquisa no Rio revela que 81% dos condenados entre 18 e 24 anos tinham sustento garantido pelos pais
Pobreza não determina jovem no crime
MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio
Uma pesquisa inédita da Secretaria de Estado da Justiça do Rio
revelou que a pobreza não é o fator determinante da criminalidade entre os jovens. O estudo mostrou que 81% dos condenados de
18 a 24 anos que ingressam no sistema penitenciário estadual tiveram o sustento de suas casas garantido pelo pai, a mãe ou ambos.
Além disso, 72% moram em casa própria (pertencente à família),
e 45% afirmam ter sido criados
em condições "adequadas ou
muito boas". Apenas 8%, porém,
completaram o 2º grau.
Os dados foram quantificados a
partir do Plano Individualizado
de Tratamento Penitenciário,
previsto na Lei de Execuções Penais e implantado pela secretaria
em setembro do ano passado.
Desde então, cerca de 400 presos que começaram a cumprir pena nos presídios do Rio foram entrevistados por uma equipe que
inclui psiquiatra, psicólogo e assistente social. O objetivo é traçar
o perfil biopsicossocial de cada
um, para o atendimento de suas
necessidades na prisão.
As entrevistas são feitas no presídio Ary Franco, em Água Santa
(zona norte do Rio), onde os detentos iniciam o cumprimento da
pena e são remanejados depois
para outras unidades.
Até agora, a secretaria já compilou os dados referentes a 300
questionários. Desses presos, 106
(35%) têm de 18 a 24 anos.
Dentre os jovens nessa faixa
etária, 60% admitiram a responsabilidade pelos delitos dos quais
foram acusados.
O motivo mais citado como o
que levou à criminalidade foi o
desejo de consumir, com 29%, à
frente até das necessidades materiais básicas, mencionadas por
21%. Já 16% atribuíram sua ação
criminosa ao fato de terem sido
levados a ela por outras pessoas.
Dentre os que negaram a autoria dos crimes, 46% disseram que
eles foram forjados, e 12% afirmaram ter sido presos porque estavam "em más companhias".
A pesquisa revelou também
que, dos 106 jovens entrevistados,
86 (81%) já tinham consumido
drogas. Desses, 70 haviam tentado interromper o consumo, por
perceber que ele era prejudicial, e
40 manifestaram o desejo de ser
ajudados para conseguir parar.
Na opinião do superintendente
de Saúde da Secretaria de Justiça,
Édison Biondi, os dados do Plano
Individualizado de Tratamento
Penitenciário mostram que não
há uma relação necessária entre a
delinquência e as condições de
estrutura familiar. "A família oferece uma certa estrutura, mas não
consegue dar conta de tudo."
Para o coordenador da área de
segurança pública do Estado,
Luiz Eduardo Soares, "associar
crime aos pobres, negros e favelados é reforçar estigmas sociais".
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