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VIZINHOS
"Eu nunca moraria lá", diz vizinha
Cativeiro de Diniz teve poucas modificações
da Reportagem Local
"Eu nunca moraria lá", disse
ontem à Folha uma vizinha da
casa que por uma semana, em
dezembro de 89, serviu de cativeiro para o empresário Abílio
Diniz. Ela não quis se identificar. "Prefiro esquecer tudo, fiquei muito nervosa."
Por fora, pouco mudou no pequeno sobrado situado na praça
Hachiro Miyazaki, no bairro do
Jabaquara, zona sul de São Paulo. Há muitas rosas no jardim
em que, na época, só havia palmeiras. No mais, está praticamente igual.
O atual morador, que segundo
a vizinha se mudou para lá apenas três ou quatro meses depois
do fim do sequestro, não gosta
de falar à imprensa sobre o assunto. "Eu só comprei a casa",
declarou, antes de dar por encerrada a conversação de poucos minutos.
A vizinha, uma senhora portuguesa que teve sua casa transformada em observatório pela
polícia durante o cerco aos sequestradores, contou que poucas modificações foram feitas: o
porão de três metros por dois
onde Diniz era mantido refém
foi tapado e o interior pintado.
"E só. Se fosse eu, ficaria lembrando daquilo a toda hora."
Ela contou que até gostou
quando o casal de sequestradores Christine Lamont e David
Spencer se mudou para lá - depois, foi surpreendida quando a
polícia rendeu não dois, mas
dez sequestradores instalados
na casa, em 17 de dezembro,
após 36 horas de cerco.
"A casa estava desocupada havia alguns meses, e eu gosto de
ter vizinhos, para alguma necessidade. Além disso, eles eram
educados e silenciosos. Foi um
choque quando descobri que
eram sequestradores."
Para a vizinha, que vive há 22
anos no local, Christine era apenas "uma moça jovem e bonita". A única atitude que considerou estranha no casal era o fato de manter sempre todas as luzes acesas e as janelas fechadas.
"Meu marido até comentou que
eles deviam ser muito ricos para
gastar tanta energia."
Uma sobrinha também chamou a atenção para a lona listrada colocada pelos sequestradores no portão e que tapava a visão da garagem. "Ela perguntou
se eles costumavam fazer muitas
festas ali, porque na época
quem fazia festa gostava de usar
uma lona para impedir que se
visse o que estava acontecendo
dentro", contou.
A vizinha não escondeu uma
certa simpatia pelos sequestradores. "É uma pena que eles não
tenham podido fugir para o Canadá com o dinheiro do Pão de
Açúcar", declarou, se referindo
à rede de supermercados de
propriedade da família Diniz.
(CYNARA MENEZES)
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