São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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VIZINHOS
"Eu nunca moraria lá", diz vizinha
Cativeiro de Diniz teve poucas modificações

da Reportagem Local

"Eu nunca moraria lá", disse ontem à Folha uma vizinha da casa que por uma semana, em dezembro de 89, serviu de cativeiro para o empresário Abílio Diniz. Ela não quis se identificar. "Prefiro esquecer tudo, fiquei muito nervosa."
Por fora, pouco mudou no pequeno sobrado situado na praça Hachiro Miyazaki, no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo. Há muitas rosas no jardim em que, na época, só havia palmeiras. No mais, está praticamente igual.
O atual morador, que segundo a vizinha se mudou para lá apenas três ou quatro meses depois do fim do sequestro, não gosta de falar à imprensa sobre o assunto. "Eu só comprei a casa", declarou, antes de dar por encerrada a conversação de poucos minutos.
A vizinha, uma senhora portuguesa que teve sua casa transformada em observatório pela polícia durante o cerco aos sequestradores, contou que poucas modificações foram feitas: o porão de três metros por dois onde Diniz era mantido refém foi tapado e o interior pintado. "E só. Se fosse eu, ficaria lembrando daquilo a toda hora."
Ela contou que até gostou quando o casal de sequestradores Christine Lamont e David Spencer se mudou para lá - depois, foi surpreendida quando a polícia rendeu não dois, mas dez sequestradores instalados na casa, em 17 de dezembro, após 36 horas de cerco.
"A casa estava desocupada havia alguns meses, e eu gosto de ter vizinhos, para alguma necessidade. Além disso, eles eram educados e silenciosos. Foi um choque quando descobri que eram sequestradores."
Para a vizinha, que vive há 22 anos no local, Christine era apenas "uma moça jovem e bonita". A única atitude que considerou estranha no casal era o fato de manter sempre todas as luzes acesas e as janelas fechadas. "Meu marido até comentou que eles deviam ser muito ricos para gastar tanta energia."
Uma sobrinha também chamou a atenção para a lona listrada colocada pelos sequestradores no portão e que tapava a visão da garagem. "Ela perguntou se eles costumavam fazer muitas festas ali, porque na época quem fazia festa gostava de usar uma lona para impedir que se visse o que estava acontecendo dentro", contou.
A vizinha não escondeu uma certa simpatia pelos sequestradores. "É uma pena que eles não tenham podido fugir para o Canadá com o dinheiro do Pão de Açúcar", declarou, se referindo à rede de supermercados de propriedade da família Diniz. (CYNARA MENEZES)




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