São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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Como seria lindo se eu fosse o Abílio Diniz!

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Se eu fosse o Abílio Diniz, não deixaria passar em branco a greve de fome que seus algozes canadenses só tiveram o estalo de iniciar agora, a quase uma década de distância do sequestro do empresário.
Não, leitor pobre de espírito. Se eu fosse o Diniz, não sairia correndo para fazer compras na joalheria Harry Winston da 5ª avenida, na Sotheby's de Londres ou na Maison Dior da avenue Montaigne, enquanto meu jato particular ficasse esperando de turbinas ligadas para me conduzir a um fim-de-semana de lascívia em Lyford Keys, nas Bahamas.
Preferiria usar meu poder de bala para torturar mortalmente esses mimadinhos desses canadenses de uma figa, que, uma vez pegos com a boca na botija, praticando um crime hediondo, foram condenados em um julgamento para lá de imparcial, fiscalizado, inclusive, por entidades de direitos humanos e pela representação diplomática do Canadá.
Se eu fosse o Abílio Diniz, usaria os serviços do Pão de Açúcar Delivery para bombardear o Carandiru, onde os canadenses se hospedam à nossa custa, com a entrega de cestas variadíssimas.
A saber: na primeira cesta, colocaria alguns acepipes. Batatinhas assadas recheadas de creme azedo e caviar iraniano; finas fatias de salmão defumado (canadense, só para chatear) sobre pão preto (sem aquela desgraça de dill, que tira todo o sabor do peixe); um foie gras, daqueles de impor respeito ao general De Gaulle, e ainda algumas tigelinhas de bacalhau, só para deixá-los babando com o aroma.
Depois, para testar se eles realmente estão dispostos a levar a greve de fome até as últimas consequências, desfilaria na frente dos malandrinhos uma cesta munida de um presunto de Parma bem grandão, acompanhada de queijos de todas as regiões da França e de um belíssimo parmesão.
A seguir, o golpe mortal: a entrada pelos portões do Carandiru de cestas repletas de risotos italianos, confits de canard, perus de Ação de Graças, daqueles que fazem os americanos revirar os olhos, e toda sorte de comida que exala odores de dar água na boca.
Terminaria com uma cesta contendo apenas bananas. Não as que os macacos apreciam, mas aquelas que italianos como eu gostam de dar, cruzando os braços, a quem merece ir catar coquinho.


QUALQUER NOTA

"Rolling Raisins"
Queria ver se aquelas uvas passas carcomidas dos Rolling Stones fossem mulheres. Seriam elas consideradas coroas enxutas ou corridas do palco à base de tomates podres?
Solo para hombres
Você percebeu, ó leitora sufragista, que não havia uma só mulher nas arquibancadas do GP da Argentina de Fórmula 1?
Dá-lhe Marta!
Recebo um gentil bilhete de Marta Suplicy, contestando meu comentário a respeito de sua capacidade para dirigir São Paulo. Diz ela que tem estudado muito e "aprendido coisas incríveis" e que "neste final de milênio, um dos principais ingredientes para o administrador é a capacidade de gerenciar e formar uma equipe, além do ingrediente fundamental: ter ética".

E-mail barbara@uol.com.br



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