São Paulo, quarta, 15 de abril de 1998

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NA PELE
Quer uma mãozinha?

especial para a Folha

Não é nada fácil a vida de um portador de deficiência em São Paulo.
Regra um: ter muitos amigos, pois pode-se precisar deles para atravessar ruas, subir escadas ou entrar em banheiros de portas estreitas.
É bom, também, acostumar-se com alguns galos proeminentes no meio da testa, pois calçadas irregulares e amigos imprudentes podem derrubá-lo, e, então, descobre-se que o asfalto é mais denso que o crânio.
Urinar não chega a ser um problema para homens deficientes. Sempre existe um canto escuro.
O problema é que uma cadeira de rodas parada no escuro chama a atenção, e alguém sempre se aproxima e pergunta: "Quer uma mãozinha, companheiro?"
Existem, na região da avenida Paulista, apenas duas vagas para carros de deficientes. As duas estão sempre ocupadas por não deficientes.
O novo Código de Trânsito não estabelece multa para essa "infração".
Mas a maioria dos cinemas e teatros de São Paulo está adaptada. O mesmo acontece com as casas de espetáculos existentes na cidade.
Alguns restaurantes têm banheiros adaptados, o que facilita a vida de um deficiente boêmio e cervejeiro.
Livrarias, shopping centers e até o estádio do Morumbi têm banheiros e vagas para deficientes.

Espaço democrático
Um novo conceito de urbanismo chega, pouco a pouco, a São Paulo: democratizar os espaços.
E, como é regra no Brasil, a outra parte, o poder público, não faz o dever de casa.
As calçadas são intransitáveis, há um número ínfimo de guias rebaixadas e ônibus adaptados, o metrô é ampliado, mas poucas estações estão de acordo com a lei, que exige elevadores.
O Teatro Cultura Artística continua sem rampas. O São Pedro quase foi reinaugurado sem acesso. Já o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) foi reinaugurado sem acesso.
Diferentemente do passado, agora o deficiente pode escolher.
Existem até guias, como o da Folha, que indicam os lugares acessíveis, para que não se precise escutar: "Quer uma mãozinha, companheiro?"
(MRP)


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