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NA PELE
Quer uma mãozinha?
especial para a Folha
Não é nada fácil a vida de um
portador de deficiência em São
Paulo.
Regra um: ter muitos amigos, pois pode-se precisar deles
para atravessar ruas, subir escadas ou entrar em banheiros
de portas estreitas.
É bom, também, acostumar-se com alguns galos proeminentes no meio da testa,
pois calçadas irregulares e amigos imprudentes podem derrubá-lo, e, então, descobre-se
que o asfalto é mais denso que
o crânio.
Urinar não chega a ser um
problema para homens deficientes. Sempre existe um canto escuro.
O problema é que uma cadeira de rodas parada no escuro
chama a atenção, e alguém
sempre se aproxima e pergunta: "Quer uma mãozinha, companheiro?"
Existem, na região da avenida Paulista, apenas duas vagas
para carros de deficientes. As
duas estão sempre ocupadas
por não deficientes.
O novo Código de Trânsito
não estabelece multa para essa
"infração".
Mas a maioria dos cinemas e
teatros de São Paulo está adaptada. O mesmo acontece com
as casas de espetáculos existentes na cidade.
Alguns restaurantes têm banheiros adaptados, o que facilita a vida de um deficiente
boêmio e cervejeiro.
Livrarias, shopping centers e
até o estádio do Morumbi têm
banheiros e vagas para deficientes.
Espaço democrático
Um novo conceito de urbanismo chega, pouco a pouco, a
São Paulo: democratizar os espaços.
E, como é regra no Brasil, a
outra parte, o poder público,
não faz o dever de casa.
As calçadas são intransitáveis, há um número ínfimo de
guias rebaixadas e ônibus
adaptados, o metrô é ampliado, mas poucas estações estão
de acordo com a lei, que exige
elevadores.
O Teatro Cultura Artística
continua sem rampas. O São
Pedro quase foi reinaugurado
sem acesso. Já o TBC (Teatro
Brasileiro de Comédia) foi reinaugurado sem acesso.
Diferentemente do passado,
agora o deficiente pode escolher.
Existem até guias, como o da
Folha, que indicam os lugares
acessíveis, para que não se precise escutar: "Quer uma mãozinha, companheiro?"
(MRP)
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