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EDUCAÇÃO
Sem oferta de recursos para permanência do aluno na escola, instituição de cotas nas universidades pode ser frustrante
Manutenção de aluno carente é problema
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos pontos críticos da criação de cotas para alunos provenientes do ensino médio público
pode ser resumido na frase da estudante Raquel Guerra, 22, do
quinto ano da Faculdade de Medicina da USP, onde 90% dos calouros vêm de escolas particulares: "Custa caro estudar, mesmo
que seja em faculdade pública".
Um atlas de anatomia custa R$
350. Um estetoscópio, R$ 250.
Trabalhar, nem pensar. Os cursos
de medicina funcionam em tempo integral, com oito horas de aula por dia, durante seis anos.
De acordo com João Carlos Nogueira, subsecretário de Relações
Institucionais da Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), o
projeto de lei das cotas deverá ser
acompanhado de um programa
de incentivo à permanência dos
alunos carentes.
Custo do programa, segundo
Nogueira: entre R$ 50 e 60 milhões, a serem gastos em bolsas
para o custeio de moradia, alimentação, transporte e material.
O orçamento foi baseado nas
experiências da Universidade de
Brasília e da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, que já têm cota.
O projeto, no entanto, só cita
políticas de permanência, sem especificar ações ou orçamento.
Também não está previsto um
programa de reforço escolar para
os egressos do ensino médio público, de modo a ajudá-los a
acompanhar as aulas.
Outro ponto sensível diz respeito aos afrodescendentes. Na proposta do governo, uma parcela da
cota reservada para a escola pública será destinada a negros e
pardos. Para distribuir essas subcotas raciais, será usado o percentual de população negra e parda
em cada Estado, segundo o censo
demográfico.
Para José Augusto de Matos
Lourenço, presidente do sindicato das escolas particulares de São
Paulo -que moveu uma ação de
inconstitucionalidade contra a
proposta de cotas-, o projeto
pode gerar distorções.
"O jovem branco da Bahia, um
Estado de maioria negra, pode ir
prestar vestibular em Santa Catarina, porque lá há poucos negros e
o cálculo de vagas para os afrodescendentes deve dar mais chances
aos brancos", avalia Lourenço.
Outra crítica refere-se à identificação, implícita no projeto de lei,
entre "estudante de escola pública" e "estudante carente". "Alunos ricos podem, por oportunismo, matricular-se em escolas públicas só porque o acesso à universidade ficará facilitado", diz
Lourenço. "Se não for especificado um critério socioeconômico
para os alunos que entrarão nas
cotas, vai virar uma bagunça generalizada."
(LC e FM)
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