São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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Córnea é tirada sem autorização no Tatuapé

Funcionária da unidade do Banco de Olhos Sorocaba que fica no hospital do Tatuapé (zona leste) foi detida em flagrante

Filha disse que a remoção ocorreu enquanto ela acertava o enterro da mãe, de 71 anos, morta na madrugada de ontem

JOÃO PEQUENO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A córnea de uma mulher morta na madrugada de ontem foi retirada, sem autorização da família, pela unidade do BOS (Banco de Olhos Sorocaba) que funciona dentro do hospital municipal do Tatuapé (zona leste).
Os parentes também reclamam da demora no diagnóstico da doença de Adelina Ribeiro dos Santos, 71, e na comunicação de sua morte -eles afirmam ter sido informados somente pela manhã da morte de Adelina, ocorrida à 0h20, por infecção generalizada em função de trombose intestinal.
A retirada da córnea aconteceu enquanto a família estava na funerária. Roseli Nunes da Silva Santos, funcionária do Banco de Olhos Sorocaba, foi detida em flagrante e levada para o 52º Distrito Policial (Parque São Jorge), onde depôs e foi liberada.
Ela responderá a inquérito com base na lei federal 9.434, de 1997, que prevê de dois a seis anos de reclusão por retirada de órgãos sem autorização.
A delegada Valderez Lopes avaliou que os depoimentos, a princípio, indicam que tenha ocorrido um acidente, com troca de cadáveres.
Marly Ribeiro dos Santos, 46, filha de Adelina, contou que quase foi impedida de ver a mãe quando voltou da funerária e foi informada por funcionários do hospital de que o corpo fora levado para o banco de olhos.
"Ela [Roseli] me empurrou para que eu não entrasse e disse que a retirada havia sido autorizada "pela filha dela", como se essa não fosse eu", reclamou Marly.
A confusão, segundo outra funcionária do BOS, Cláudia Horikama, foi causada pelo fato de uma paciente doadora e com nome semelhante -Alaide Felicia- ter morrido em um horário próximo.
O corpo de Adelina teria sido recolhido, por distração, no lugar do cadáver de Alaide.
Assim que entrou no banco de olhos, Marly encontrou a mãe já sem a córnea do olho direito e com o olho esquerdo preparado para a remoção -que acabou não acontecendo.
Alexandre Juan Lucas, 32, neto de Adelina, afirma que o chefe de plantão do banco de olhos, Clayton Gonçalves, tentou convencê-los a aceitar a reconstituição do olho e não chamar a polícia.

Diagnóstico demorado
Segundo Marly, o drama começou na terça-feira passada, quando a mãe passou a sofrer fortes dores no abdome, que pioraram no domingo.
"Ela precisou ser internada e só havia residentes [médicos recém-formados, que não podem atender sem a supervisão de profissionais mais experientes]", contou ela.


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