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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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AMBIENTE

É o tempo que leva o processo inflamatório que aumenta em 20% os casos respiratórios infantis, diz estudo do HC

Poluição se reflete nas crianças em 5 dias

DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro ou cinco dias depois que medições alertam para um aumento da poluição, o número de crianças com "doenças do trato respiratório baixo" atendidas no Hospital das Clínicas aumenta em 20%. No "trato baixo" estão doenças como asma, bronquite, bronquiolite e pneumonia.
O espaço entre o registro das estações medidoras e a procura pelo Instituto da Criança do HC é o tempo médio do processo inflamatório provocado pela poluição.
No pronto-socorro do instituto são atendidas em média 4.200 crianças nos meses do verão. No inverno e no outono, saltam para mais de 5.500. No ano passado, o mês de julho bateu o recorde com 6.142. O aumento, segundo os médicos, se deve aos problemas respiratórios que nesses períodos do ano atacam mais as crianças.
A pesquisa que chegou a um aumento de 20% nas doenças respiratórias do trato baixo -e sua ocorrência cinco dias depois- foi feita ao longo de dois anos por Sylvia Costa Lima Farhat, médica assistente do PS do Instituto da Criança e integrante do Laboratório de Poluição da USP.
Na sua pesquisa de doutorado, a médica constatou que os cinco gases mais comuns na cidade de São Paulo tinham "culpa" igual nas doenças das crianças. São o material particulado, dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono, dióxido de enxofre e gás ozônio, todos gerados pela queima de combustível pelos veículos. O último é uma transformação do NO2 ocorrida pela luz solar.
Na ensolarada tarde da sexta-feira, cerca de 20 crianças aguardavam atendimento no PS do Instituto da Criança com problemas respiratórios.
Os médicos não tinham meios de dizer se o responsável era a poluição, agentes alérgicos, ou uma combinação dos dois. Por exemplo, uma criança alérgica poderá ter uma crise de asma desencadeada pela poluição, exemplifica Sylvia Farhat.

O parque ou o trânsito
São Paulo está próxima de uma situação paradoxal: o parque Ibirapuera, associado a práticas de esporte, saúde e lazer, está batendo o recorde nos níveis de ozônio por conta das grandes avenidas laterais. "Uma hora teremos que fechar o trânsito para não fechar o parque", diz a pneumologista Sonia Cendon.
A médica faz parte de um grupo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que está montando um ambulatório que permite estudar a relação de cada poluente com as diferentes doenças.
Há muitos estudos expondo o papel da poluição no aumento de doenças e da mortalidade e a sua interferência na hipertensão, nas arritmias cardíacas e no processo de infarto, além das sinusites, bronquites e pneumonias.
"As principais vítimas são as crianças e os idosos", diz a pneumologista Sonia Cendon.
"É necessário estudar nossa cidade de forma que possamos nos defender. Os carros estão com melhor qualidade, mas há cada vez mais carros." Para médica, é importante saber quando um poluente está fugindo ao controle e provocando maior dano à saúde. (AURELIANO BIANCARELLI)

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