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PRESÍDIOS
Na época, ex-detento foi contratado para abrir a passagem, descoberta quando já estava perto da muralha da penitenciária
Primeiro grande túnel foi achado em 1971
DA REPORTAGEM LOCAL
Os presos do complexo do Carandiru levaram 30 anos aperfeiçoando planos de resgates subterrâneos, por meio de túneis escavados de fora para dentro, até
conseguirem acertar duas fugas
recorde em apenas sete meses.
Em dezembro passado, fugiram
35 detentos. A fuga de 106 presos,
há uma semana, foi a maior da
história do sistema prisional paulista por baixo da terra.
E não seria diferente: o presídio
está no meio da cidade de São
Paulo, rodeado por unidades da
polícia. Por isso, a dificuldade de
fazer um simples túnel para ultrapassar as muralhas ou de organizar uma invasão armada.
Há registros de detentos recapturados, desde a década de 80,
saindo das tampas de inspeção ao
redor do complexo, mas nenhum
como o de domingo passado,
quando os fugitivos usaram quatro quilômetros da rede pluvial,
embaixo de movimentadas avenidas, para se afastar dali e evitar a
prisão pela polícia.
Até agora, dos 106 fugitivos,
apenas 30 foram recapturados. A
maioria dos fugitivos foi condenada por homicídio e roubo.
O primeiro grande ""tatu" -o
túnel da fuga, na gíria dos presos- data de 1971. Foi descoberto
por acaso, porque vizinhos da prisão estranharam a movimentação
de novos moradores do bairro e
avisaram a polícia.
""A entrada ficava ao lado do
balcão de um bar. Você descia
dois metros e meio, mais ou menos, por uma escada e dava até
para ficar em pé no túnel", lembra
Luiz Camargo Wolfman, 70, que,
na época, era diretor penal da Penitenciária do Estado -o presídio onde haveria a fuga.
Os assaltantes Walmir Vieira
Azevedo e Omar Bandeira de
Souza, então cumprindo pena no
pavilhão 3, foram apontados pela
polícia como os financiadores do
plano de escavação.
Eles tinham contratado um estelionatário, ex-reeducando do
Carandiru, para executar a operação. Essa pessoa, conhecida como
Professor, alugou três imóveis na
avenida Zaki Narchi, em frente à
Penitenciária do Estado.
O túnel saía de um bar, uma das
casas servia como depósito de terra e a outra era ponto de observação. Logo que a passagem estivesse pronta, os detentos sairiam por
ela e seriam resgatados.
Requinte
Calcula-se que o grupo de resgatadores levou aproximadamente
três meses para abrir o buraco.
Dentro dele havia iluminação e
sistema de ventilação.
""O "tatu" passava por baixo de
duas casas, atravessava a avenida
[Zaki Narchi" e estava chegando à
primeira muralha da penitenciária", disse Wolfman.
Nos anos seguintes, os detentos
fizeram inúmeras tentativas de
fuga por túnel, bem-sucedidas ou
não, testando os pontos vulneráveis. Só neste ano houve 31 ocorrências desse tipo.
Em maio de 96, 51 detentos desapareceram por uma passagem
subterrânea que dava para uma
casa na rua Antonio dos Santos,
na lateral do pavilhão 7 da Casa de
Detenção -o maior presídio do
complexo do Carandiru.
Na época, a polícia investigou a
participação no plano de um engenheiro que cumpriu pena no
mesmo pavilhão. A energia elétrica do presídio e até um macaco
hidráulico foram usados.
Entre todas as tentativas, a lateral da avenida Ataliba Leonel pareceu ser o local mais vulnerável.
É por ali que saíram 35 detentos
em dezembro do ano passado e
106 no último domingo, aproveitando as rede de galerias pluviais.
O plano, nos dois casos, foi o
mesmo: abrir um túnel sob a muralha, de fora para dentro, a partir
da tubulação de concreto que passa embaixo da avenida.
Em três décadas, a operação se
repetiu várias vezes. Em abril deste ano, a Polícia Militar encontrou
uma escavação saindo de uma casa alugada, do lado da avenida Zaki Narchi, rumo ao pavilhão 8 da
Casa de Detenção.
O ""tatu" de 42 metros de comprimento estava sendo aberto
com a ajuda de um aparelho de
navegação por satélite, usado hoje
em dia na aviação. Faltavam menos de 30 metros para que a muralha fosse ultrapassada.
(ALESSANDRO SILVA)
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