São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAGA AFRICANA

Africano diz ter sofrido maus-tratos após ser descoberto em navio petroleiro da Libéria

Malinês que viajava clandestinamente pede asilo no Rio

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O malinês Mustafá Traviere, 29, encaminhou ontem pedido de asilo ao governo brasileiro, depois de relatar a policiais federais do Rio uma saga que teria começado havia quase dois meses em um dos mais pobres da África, e terminado num improvisado bote de madeira, na costa fluminense, há cinco dias.
A Polícia Federal está investigando a veracidade do relato. Traviere afirma ter sido resgatado por pescadores no último sábado, depois de ter sido supostamente jogado ao mar pela tripulação de um navio petroleiro proveniente da Libéria, no noroeste da África.
Traviere estava com um pedaço da orelha esquerda cortada, segundo ele, devido a maus-tratos que teria sofrido nos 45 dias em que ficou no navio, no qual embarcou clandestinamente. No depoimento, ele disse que deixou o Mali, antiga colônia francesa, devido a um conflito em que seus pais foram mortos.
O malinês, que era mecânico em seu país, disse que embarcou sem conhecer a rota. Contou que, depois de dois dias escondido, foi descoberto e preso sozinho em uma sala escura.
Traviere afirmou que o navio passou por diversos países e que a tripulação era composta, principalmente, por filipinos e coreanos. Ele disse ter sido atirado ao mar em uma plataforma de madeira e ficado dois dias à deriva, comendo o pouco que a tripulação lhe deixara. Segundo o malinês, os pescadores que o resgataram lhe ofereceram abrigo, comida e roupas.
Traviere foi levado à tarde para a Cátiras, da Arquidiocese do Rio, que encaminhará o pedido de asilo ao Conare (Comitê Nacional para Refugiados), do Ministério da Justiça. Pela lei, tem direito ao estatuto de refugiado o cidadão cujo país esteja em situação de generalizada ameaça aos direitos humanos. Mali tem cerca de 2.600 refugiados.
A polícia está à procura dos supostos pescadores mencionados Traviere. No Rio, nenhum dos navios apresentou as características descritas pelo malinês.



Texto Anterior: Intolerância: Skinhead é condenado a 3 anos de prisão
Próximo Texto: Educação: MEC quer "universalizar" carteirinhas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.