São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2000

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"Minha extradição é um exílio eterno", diz Herbert

de Washington

Há 14 anos, João Herbert foi trazido para os Estados Unidos sob a promessa de uma vida melhor.
Depois de cometer seu primeiro deslize, considerado leve pelo próprio juiz criminal que o julgou, o governo norte-americano o está extraditando.
"Na verdade, não é extradição: estão me exilando para sempre", afirmou João Herbert à Folha, por telefone, da prisão onde está em Cleveland.
"Só falo inglês, meus pais de coração e meus amigos estão aqui nos EUA. Portanto, minha extradição é, na verdade, um exílio eterno", afirmou Herbert.

Folha - Como você define sua própria situação?
João Herbert -
Amarga. Não decidi sair do Brasil quando criança, decidiram por mim quando fui adotado. Minha prisão e deportação foram violências que quero superar. Vi pessoas que cometeram crimes piores que os meus entrarem e saírem da cadeia. A ironia é que o governo brasileiro, que teoricamente deveria ser o deficiente, na visão dos norte-americanos, foi o único a me dar ajuda e me tratar como gente.

Folha - O que você espera encontrar no Brasil?
Herbert -
Não sei o que esperar, mas estou excitado. Vivi num orfanato em São Paulo, num lugar com um nome esquisito (bairro de Carapicuíba). Só me lembro de algumas imagens, da quadra de futebol, dos arranha-céus e de uma piscina sem água. Mas tenho a sensação de que estou voltando para casa. Preciso de um emprego para poder sobreviver. Sou trabalhador e estou disposto a me esforçar.

Folha - Você saiu do Brasil com nove anos. Lembra-se de alguma palavra em português?
Herbert -
Perdi o português completamente, mas acho que está guardado em algum lugar na minha mente. As pessoas dizem que, enquanto durmo, falo numa língua diferente. Deve ser português.

Folha - Você se lembra de seus pais naturais?
Herbert -
Quando eu tinha seis anos, minha mãe me procurou no orfanato para dizer que me amava, mas que não podia me criar. Me lembro de algumas imagens. Uma de minhas irmãs no Brasil me escreveu uma carta quando eu tinha sete anos, pouco antes de eu ser adotado. Quero encontrá-las no Brasil.

Folha - O que sente por seus pais adotivos?
Herbert -
Muito amor. Sei que erraram ao não me registrarem, mas sempre me deram amor. Quero pedir desculpas a eles.


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