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"Minha extradição é um exílio eterno", diz Herbert
de Washington
Há 14 anos, João Herbert foi trazido para os Estados Unidos sob a
promessa de uma vida melhor.
Depois de cometer seu primeiro
deslize, considerado leve pelo
próprio juiz criminal que o julgou, o governo norte-americano
o está extraditando.
"Na verdade, não é extradição:
estão me exilando para sempre",
afirmou João Herbert à Folha,
por telefone, da prisão onde está
em Cleveland.
"Só falo inglês, meus pais de coração e meus amigos estão aqui
nos EUA. Portanto, minha extradição é, na verdade, um exílio
eterno", afirmou Herbert.
Folha - Como você define sua própria situação?
João Herbert - Amarga. Não decidi sair do Brasil quando criança,
decidiram por mim quando fui
adotado. Minha prisão e deportação foram violências que quero
superar. Vi pessoas que cometeram crimes piores que os meus
entrarem e saírem da cadeia. A
ironia é que o governo brasileiro,
que teoricamente deveria ser o
deficiente, na visão dos norte-americanos, foi o único a me dar
ajuda e me tratar como gente.
Folha - O que você espera encontrar no Brasil?
Herbert - Não sei o que esperar,
mas estou excitado. Vivi num orfanato em São Paulo, num lugar
com um nome esquisito (bairro
de Carapicuíba). Só me lembro de
algumas imagens, da quadra de
futebol, dos arranha-céus e de
uma piscina sem água. Mas tenho
a sensação de que estou voltando
para casa. Preciso de um emprego
para poder sobreviver. Sou trabalhador e estou disposto a me esforçar.
Folha - Você saiu do Brasil com
nove anos. Lembra-se de alguma
palavra em português?
Herbert - Perdi o português
completamente, mas acho que está guardado em algum lugar na
minha mente. As pessoas dizem
que, enquanto durmo, falo numa
língua diferente. Deve ser português.
Folha - Você se lembra de seus
pais naturais?
Herbert - Quando eu tinha seis
anos, minha mãe me procurou no
orfanato para dizer que me amava, mas que não podia me criar.
Me lembro de algumas imagens.
Uma de minhas irmãs no Brasil
me escreveu uma carta quando eu
tinha sete anos, pouco antes de eu
ser adotado. Quero encontrá-las
no Brasil.
Folha - O que sente por seus pais
adotivos?
Herbert - Muito amor. Sei que
erraram ao não me registrarem,
mas sempre me deram amor.
Quero pedir desculpas a eles.
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