São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Saltos perigosos

JAIRO BOUER
especial para a Folha

Dor nas costas, nos músculos das pernas e cansaço nos pés. Um exame para diagnosticar a causa de tais sintomas pode começar pelos pés. Boa parte dos sapatos de salto alto, inclusive alguns que estão sendo lançados agora para o verão, estão longe de atender às recomendações dos especialistas.
Os problemas decorrentes desses calçados podem extrapolar a dor e o desconforto e se transformar em uma deformidade.
O uso crônico de sapatos altos, apertados e pouco confortáveis pode levar, com o passar dos anos, a tendinites de repetição, formação de pequenos tumores benignos e desgastes nas articulações dos pés, joelho e coluna que acabam provocando dores crônicas e limitações de movimento.
O sapato ideal deve ter um salto com altura de, no máximo, 2 cm. Os modelos analisados e fotografados pela reportagem da Folha na última semana (veja quadro) têm, pelo menos, 7 cm.
Segundo o ortopedista Carlos Cauchioli, salto muito alto altera o centro de gravidade do corpo, jogando-o mais para frente. A marcha passa a sobrecarregar a porção anterior (frente) do pé e a musculatura da perna. Isso desgasta o joelho e provoca hiperextensão da coluna (lordose).
A base do salto, segundo Cauchioli, deve ser mais larga que o calcanhar, para permitir uma melhor distribuição do peso do corpo quando a pessoa anda.
Salto muito estreito, como muitos dos que estão nas lojas, acabam exacerbando as dores e o desconforto do salto alto. Para completar, é bom que a porção posterior (calcanhar) do sapato tenha um contraforte (costura) reforçado. Isso evita que o calcanhar "dance" durante o movimento, diminuindo o risco de torções.
As recomendações não param no salto. O sapato deve ter uma cinta, velcro ou cadarço, na sua parte intermediária, com ajuste regulável, que o mantenha firmemente amarrado ao dorso do pé.
Esse item é fundamental também para evitar as torções de tornozelo. Muitos fabricantes, na busca por sapatos de verão mais arejados, esquecem esse detalhe e utilizam tiras mais decorativas que funcionais.
Para terminar, os especialistas recomendam que a porção anterior do sapato seja mais larga que a porção intermediária, acomodando com conforto todos os dedos.
Se não há espaço suficiente, os dedos se "encavalam" no momento da marcha, podendo provocar, com o tempo, a formação de calos, joanetes e até dedos "em garra".
Cauchioli diz que a área total do sapato deve ser maior ou igual à do pé. Segundo ele, um teste muito simples pode ser feito no momento da compra.
A mulher deve ficar descalça e em pé ao lado do seu novo par de sapatos. Quanto menor for o tamanho do sapato comparado ao tamanho do pé, mais problemas podem estar a caminho. A suposta elegância dos sapatos acaba sacrificando o conforto e a saúde dos pés, pernas e coluna vertebral.
Para as mulheres que não podem fugir da rotina sacrificante do uso diário desses sapatos, recomenda-se que, ao chegar em casa, ela faça alongamento e massagens nos músculos dos pés e das pernas.
Mas, se não há necessidade de usar esse tipo de sapato, os calçados ideais são tênis e mocassins.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.