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SEGURANÇA
Barba, Palazzo e Silva, três dos cinco policiais investigados, afirmam que acabaram com o tráfico na cracolândia
Acusados dizem ter sido "crucificados"
GILMAR PENTEADO E
IURI DANTAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a choro, revolta e pouca modéstia, os investigadores de
polícia Guilherme Barbosa Palazzo, 35, Hélio Carlo Barba, 37, e
Alessandro Ramos da Silva, 25,
negaram ontem ser os comandantes do tráfico de drogas na região da cracolândia.
Imagens e depoimentos divulgados pelo Ministério Público anteontem apontam cinco policiais
como suspeitos de tráfico, agressão e extorsão de dinheiro.
Em uma entrevista à Folha de
quase duas horas, antes de ser decretada a prisão preventiva dos
cinco policiais, Palazzo, Barba e
Silva afirmaram que receberam
"uma punhalada pelas costas" do
diretor do Denarc, Marco Antonio Ribeiro de Campos, e que estão sendo "crucificados" porque
"acabaram com o tráfico".
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Folha - O que aparece naquelas
cenas e fotografias?
Guilherme Palazzo - Eu vou ser
honesto com você e não vou ser
modesto. Somos responsáveis pela extinção do tráfico na cracolândia. Tudo aquilo que vocês conheceram dois anos e meio atrás,
aquele monte de gente fumando
cachimbo, tudo se extinguiu.
Folha - E as denúncias de tortura
e agressão?
Palazzo - Pergunta para os comerciantes quem somos, não para traficante ou para viciado. Acabamos com a casa deles. Vai falar
para mim se sou educado com
traficante? Não sou educado. Falo
alto mesmo. Vou ser educado? Eu
não sou é violento.
Folha - Mas, então, por que a Promotoria levanta essa suspeita?
Palazzo - Acredito que apertamos o calo de alguém.
Folha - De quem?
Palazzo - Não faço idéia. Alguém
não gostou, não sei quem. Não
vou fazer a mesma coisa que esse
pessoal: dar nomes sem ter provas. Estão dizendo que a gente
não sai de lá, faz tudo escrachado
na rua, mas ficam durante 30 dias
e não conseguem pegar uma filmagem provando. Estou falando
da minha equipe.
Folha - Como assim?
Palazzo - A filmagem mostrava a
nossa equipe abordando pessoas,
porque é o que a gente faz. É determinação do diretor essa ronda.
Somos do SOE [Setor de Operações Especiais do Denarc" e cumprimos um plantão de dia e outro
à noite. Estou me sentindo apunhalado pelas costas pelo meu
próprio diretor.
Folha - Qual diretor?
Palazzo - O Marco Antonio
[Marco Antonio Ribeiro de Campos, diretor do Denarc". Ele me
chamou de ordinário. Meu pai
nunca me xingou. Ele disse também que não existe controle, mas
existe ali a maior concentração de
carros de polícia do mundo. O
próprio diretor passa lá de madrugada e, se não vê a viatura, a
primeira coisa que ele faz é ligar
para o Cepol (central da polícia).
Folha - Ele vai frequentemente à
cracolândia?
Palazzo - Vai direto. Se não é ele,
pelo menos algum chefe.
Folha - Com que frequência?
Palazzo - Pelo menos uma vez
por mês. É uma cobrança muito
grande para não sairmos de lá. Eu
não entendi até agora por que ele
não explicou isso. Você tem uma
imagem que é duvidosa da outra
equipe, não vamos negar. Cá para
nós, a imagem é duvidosa? Não
vamos negar, é. Mas e nós? Ficaram lá 30 dias e não conseguiram
uma cena duvidosa.
Folha - Mas a cena do Barba em
um carro entregando uma espécie
de envelope para uma mulher?
Hélio Carlo Barba - É difícil quem
não tenha meu telefone naquela
região, principalmente as pessoas
que querem conversar, mas não
podem naquele momento porque
ficam temerosas.
Folha - Vocês não trabalhavam
com o José Carlos de Castilho?
Palazzo - Não tem nada a ver conosco.
Barba - Eu não entendia por que
na entrevista o diretor não foi claro em dizer que o Castilho pertence a uma delegacia e que nós somos do SOE. Esclarecer isso era o
mínimo que ele deveria ter feito.
Folha - O diretor do Denarc disse
que foi um "marido traído".
Palazzo - O diretor acompanha
direto o que está acontecendo.
Barba - O nosso chefe imediato
ronda, o nosso chefe de operação
ronda, o delegado-assistente ronda, o delegado titular ronda e o diretor ronda. Eles têm de estar
cientes do que está acontecendo
na cracolândia.
Folha - E as cenas de violência?
Palazzo - Tem uma cena em que
eu apareço com a arma na mão.
Mas o policial não aborda sem arma. Aqui não é a Inglaterra.
Folha - E a cena do extintor?
Barba - Esse jato é de água, não é
espuma. Normalmente, eles [viciados" usam um artifício: "vou
me incendiar". Porque eles têm
muito medo de irem presos.
Folha - Mas é o senhor na foto?
Barba - Provavelmente.
Folha - Ela queria se incendiar?
Barba - Eles colocam o fogo na
própria roupa. Se ouvirem a vítima, ela vai confirmar que é água.
Sem tirar o mérito de ninguém,
mas é só perguntar para policiais
do SOE e para o próprio Denarc
quem acabou com a cracolândia.
Nossa presença é um incômodo
para os traficantes, os viciados...
Alessandro Ramos da Silva - Travestis que andavam pelados na
rua.
Barba - Muita gente está incomodada com a presença do Barba
na cracolândia.
Silva - O viciado, o traficante e o
travesti estavam tranquilos fazendo aquele auê na rua. E de repente
isso acaba...
Folha - E a história da tortura
usando espingarda de chumbo?
Barba - Existe um estigma em cima do Barba porque o Barba faz
maior quantidade de flagrantes, o
Barba está todo dia na cracolândia. Eles brigam entre si e se alguém pergunta quem foi que bateu eles dizem: o Barba.
Folha - Vocês entregaram as armas?
Palazzo - Nós trabalhamos contra traficantes quatro anos e agora
estamos desarmados. Nós já fomos crucificados. Eu fui escorraçado como um vagabundo.
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