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OPINIÃO
Menstruação não é doença
PEDRO PAULO MONTELEONE
As opiniões sobre temas relacionados à saúde da mulher ocupam
espaço privilegiado na mídia e,
não raro, trazem informações preconceituosas e nocivas.
A mulher normal ovula quase
todos os meses, e a fase pré-menstrual é caracterizada por retenção
hídrica, dor nas mamas, peso no
abdome inferior e irritabilidade.
Esses sintomas comuns do ciclo
ovulatório, para muitos médicos,
compõem um estado patológico,
que precisa ser tratado. Divulga-se, irresponsavelmente, que as
mulheres são portadoras da síndrome de tensão pré-menstrual e
devem procurar um médico. As
mulheres que conviviam tranquilamente com os sintomas passam
a ser enquadradas como doentes.
São induzidas ao quadro pelo que
ouviram de supostos especialistas.
Não negamos a existência da
síndrome pré-menstrual. Ela atinge um grupo restrito de mulheres
e chega até a ser responsável por
limitações sociais e profissionais.
Nesse caso, deve ser tratada.
Mais complexa, mas não menos
sujeita a graves equívocos, é a
abordagem da menopausa, em
que até interesses escusos estão
envolvidos. A menopausa deve ser
vista como patologia? Quem acha
que sim talvez considere que as
mulheres foram criadas de forma
errada e deveriam menstruar eternamente. Para outros, sensatos, é
a lógica da natureza humana: a
mulher nasce, menstrua, entra no
período fértil, tem filhos, chega ao
redor dos 50 e pára de menstruar.
Colocam na cabeça das mulheres que, durante a menopausa, estão condenadas a ansiedade, envelhecimento rápido, exposição a
doenças, fraco desempenho sexual e diminuição da expectativa
de vida. A multiplicação dos sintomas é acompanhada do anúncio
do milagre. Elas são "convidadas" a se medicar com a terapia
hormonal de reposição, que garante a juventude eterna, a beleza
e o fim das rugas, mas pode trazer
complicações que ainda não foram totalmente dimensionadas.
Claro, não podemos negar os
avanços da prevenção. Caso os riscos de fator cardiovascular ou de
osteoporose, por exemplo, estejam presentes, os hormônios terão
papel importante. Correção de hábitos alimentares, atividade física
programada, exposição moderada
ao sol, terapia ocupacional e eliminação do fumo são úteis.
Não há dúvida sobre a importância da informação para a sociedade (e as mulheres, especialmente). Campanhas preventivas devem ser amplamente difundidas,
periódicas e cientificamente fundamentadas. Mas devemos ser rigorosos quanto ao conteúdo das
mensagens. Não podemos tolerar
o oportunismo e a desinformação,
que podem violentar a fisiologia, o
bem-estar e a vida das mulheres.
Pedro Paulo Roque Monteleone, 57, é professor-adjunto de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo e presidente do Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
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