São Paulo, terça, 15 de dezembro de 1998

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OPINIÃO

Menstruação não é doença

PEDRO PAULO MONTELEONE

As opiniões sobre temas relacionados à saúde da mulher ocupam espaço privilegiado na mídia e, não raro, trazem informações preconceituosas e nocivas.
A mulher normal ovula quase todos os meses, e a fase pré-menstrual é caracterizada por retenção hídrica, dor nas mamas, peso no abdome inferior e irritabilidade.
Esses sintomas comuns do ciclo ovulatório, para muitos médicos, compõem um estado patológico, que precisa ser tratado. Divulga-se, irresponsavelmente, que as mulheres são portadoras da síndrome de tensão pré-menstrual e devem procurar um médico. As mulheres que conviviam tranquilamente com os sintomas passam a ser enquadradas como doentes. São induzidas ao quadro pelo que ouviram de supostos especialistas.
Não negamos a existência da síndrome pré-menstrual. Ela atinge um grupo restrito de mulheres e chega até a ser responsável por limitações sociais e profissionais. Nesse caso, deve ser tratada.
Mais complexa, mas não menos sujeita a graves equívocos, é a abordagem da menopausa, em que até interesses escusos estão envolvidos. A menopausa deve ser vista como patologia? Quem acha que sim talvez considere que as mulheres foram criadas de forma errada e deveriam menstruar eternamente. Para outros, sensatos, é a lógica da natureza humana: a mulher nasce, menstrua, entra no período fértil, tem filhos, chega ao redor dos 50 e pára de menstruar.
Colocam na cabeça das mulheres que, durante a menopausa, estão condenadas a ansiedade, envelhecimento rápido, exposição a doenças, fraco desempenho sexual e diminuição da expectativa de vida. A multiplicação dos sintomas é acompanhada do anúncio do milagre. Elas são "convidadas" a se medicar com a terapia hormonal de reposição, que garante a juventude eterna, a beleza e o fim das rugas, mas pode trazer complicações que ainda não foram totalmente dimensionadas.
Claro, não podemos negar os avanços da prevenção. Caso os riscos de fator cardiovascular ou de osteoporose, por exemplo, estejam presentes, os hormônios terão papel importante. Correção de hábitos alimentares, atividade física programada, exposição moderada ao sol, terapia ocupacional e eliminação do fumo são úteis.
Não há dúvida sobre a importância da informação para a sociedade (e as mulheres, especialmente). Campanhas preventivas devem ser amplamente difundidas, periódicas e cientificamente fundamentadas. Mas devemos ser rigorosos quanto ao conteúdo das mensagens. Não podemos tolerar o oportunismo e a desinformação, que podem violentar a fisiologia, o bem-estar e a vida das mulheres.


Pedro Paulo Roque Monteleone, 57, é professor-adjunto de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.



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