São Paulo, sexta, 16 de janeiro de 1998.



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OPINIÃO
São Paulo mais verde

LEONARDO CRUZ BASSO

Segundo o "Guinness", o recorde mundial de plantio de árvores em um só dia por uma quantidade ilimitada de pessoas é de 24.159 unidades, plantadas por 9.084 voluntários em Guaratinguetá (São Paulo, Brasil), em 10 de abril de 1996. Nada contra o recorde, e parabéns a Guaratinguetá.
Mas causa decepção observar em São Paulo centenas de ruas e praças sem nenhuma árvore ou sem nada além de algumas esquálidas sobreviventes, extremamente mutiladas pela ação humana.
Fala-se muito em política ambiental e ampliação da área verde, e desgosta-nos muito o fato de madeireiras estrangeiras ávidas por lucros fáceis se lançarem como predadoras sobre as árvores da Amazônia, sem se preocupar com o uso racional do solo e a reposição das árvores derrubadas.
Entretanto, nós, aqui na Paulicéia, não conseguimos cuidar do verde que nos afeta mais diretamente, nas vizinhanças dos nossos quintais, varandas, ruas e praças.
Causa constrangimento o fato de que a prática saudável de americanos e europeus de inundar as ruas de árvores tenha vicejado em bairros tidos como nobres, mas não encontre sustentação na periferia.
Onde está a solução? Chamar a atenção para o problema e abrir espaço para o debate já é parte dela. Do embate entre propostas surge a síntese conciliadora.
De uma coisa estamos certos: recordes desse naipe não são para cidades pequenas, são para pesos pesados, como São Paulo. Quem tem mais gente para plantar pode plantar mais. Só não o faz se não existir vontade política.
Acreditamos na eficácia do velho mutirão. Julgamos sensato que o papel caiba à prefeitura, entrando na "dança do verde" tudo o que for possível: Estado, prefeitura, igrejas, sociedades de bairro, universidades, especialistas em plantio e, principalmente, população.
O que plantar? Tudo o que os especialistas reputassem como viável e tudo o que a intuição de cada cidadão desejasse. E nada mais razoável que os moradores das ruas beneficiadas cuidassem da clorofila que circunda suas casas.
Mas as cidades menores não devem se sentir depreciadas: a disputa estaria aberta, ampliando a contenda para todo o Brasil. Caso um dia não seja suficiente, institua-se a semana do plantio.
E, quando madeireiras estrangeiras e brasileiras quisessem extrair árvores sem manejo racional do solo, sem plantar nada no lugar, a gente, porque fez a lição de casa e inundou São Paulo de árvores, devidamente clorofilados e fortes, bateria nelas de pau. Paus de plástico, porque os de madeira estariam verdes, partes integrantes dos espaços urbanos.


Leonardo Fernando Cruz Basso, 47, doutor em economia pela New School for Social Research, é coordenador do curso de pós-graduação em economia da Universidade Mackenzie e professor da Fundação Getulio Vargas (SP)



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