São Paulo, sexta, 16 de janeiro de 1998.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estado e município disputam hospitais

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

O governo estadual está disputando com a Prefeitura do Rio cinco hospitais federais que, segundo médicos do próprio Ministério da Saúde, deveriam passar para o município com a implantação ainda em 98 do SUS (Sistema Único de Saúde).
Para a direção do SinMed (Sindicato dos Médicos do Rio) e outros médicos ouvidos pela Folha, por trás dessa disputa existem não somente duas concepções distintas de administração do sistema de saúde pública na cidade.
Os 12 hospitais no Rio, cuja administração o ministério pretende transferir, contam com verbas de custeio anual de cerca de R$ 200 milhões e pelo menos 600 funções gratificadas que poderiam vir a ser ocupadas por indicações políticas.
"Esses hospitais representam um instrumento político grande em ano eleitoral", diz o presidente do SinMed, Luiz Tenório, 56.
Dos 12 hospitais, o município quer oito. O Estado, porém, deseja nove. A conta final não fecha.
Para o coordenador-geral dos hospitais do ministério no Rio, Ricardo Peret, 45, "se essa discussão puder se dar no âmbito técnico", o Estado só deveria ficar com no máximo cinco hospitais, por serem "extremamente especializados e de alta complexidade", como o Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia.
O secretário municipal da Saúde, Ronaldo Gazolla, disse que não está disputando qualquer hospital: "Estamos solicitando o que é normal, os hospitais federais com perfil municipal". Ele diz acreditar que haverá acordo com o governo do Estado.
A secretária estadual da Saúde, Rosângela Bello, disse que não há disputa nenhuma "leilão de hospitais". Para ela, a municipalização da maioria das unidades federais "é um equívoco", por não terem referência só na cidade.
"Cerca de 50% da demanda do hospital de Ipanema, por exemplo, é de fora do Rio, principalmente da Baixada Fluminense." Para ela, a posição do SinMed é atrasada: "É uma bobagem essa coisa de que hospital dá voto e que diretor é nomeado por político. Isso acabou".
O presidente da Comissão de Saúde da Câmara municipal do Rio, o médico e vereador Paulo Pinheiro (PPS), afirmou que "a população não tem nada a ver com essa briga de poder e verba entre o Marcello e Cesar Maia". Ele se referia ao governador Marcello Alencar (PSDB), candidato à reeleição, e ao ex-prefeito Maia (PFL), que fez o seu sucessor e este ano disputará o governo estadual.
Tenório e Pinheiro elogiam a administração Gazolla. Mas acham que, independentemente de ela se mostrar mais eficiente que a administração do Estado, pela lógica do SUS a maioria dos hospitais tem que ser municipalizada.
Pinheiro disse que Gazolla tem procurado agilizar a administração pública de seus hospitais, evitando "intervenções político-partidárias".
"O pessoal do município, pelo menos da Saúde, é mais sério", afirmou Tenório.
Ele disse que, nas eleições, os hospitais podem vir a ser usados por políticos, como, segundo ele, foram os casos dos hospitais federais de Bonsucesso (que o Estado quer) e do Andaraí (reivindicado pelo Estado e pela prefeitura).
Há dois meses, os diretores desses hospitais foram afastados pelo Ministério da Saúde, acusados de irregularidades. Eles haviam sido indicados por deputados.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.