São Paulo, sexta, 16 de janeiro de 1998.



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Ana e Célia estudarão a 13 km de suas casas

da Reportagem Local

As estudantes e amigas Ana Paula de Piza, 15, e Célia Duarte de Nóbrega, 15, estudaram juntas da 1ª à 8ª série, moram em Parada de Taipas e vão continuar juntas, mas na escola Manuel Ciridião Buarque, no Alto da Lapa, a 13 km de suas casas, apesar de os dois bairros ficarem na zona noroeste de SP.
Anteontem, depois de perderem a vaga para o período noturno da 1ª série do 2º grau em escolas mais próximas de casa no "bingo" da educação, elas "escolheram" a Ciridião por ser a menos longe da lista do sorteio no Pacaembu.
"A gente não sabe onde fica a escola, acho que meu pai sabe onde é a rua", afirma Ana Paula antes de ser levada de carona pelo primo Antonio Ruiz Mestre para a rua Cerro Corá, onde fica o colégio.
Com trânsito bom, o trajeto durou 30 minutos. De ônibus, como será na prática, a viagem deverá durar mais de uma hora.
O pai de Ana Paula, o caminhoneiro Carlos Antonio Piza, 46, foi junto para assinar a matrícula e protestou contra o sorteio.
"Para estudar hoje você tem de enfrentar um sofrimento. Isto porque o governo diz que a prioridade é educação, imagina se não fosse."
A maior preocupação de Carlos é com a volta da filha. "Ela vai chegar à nossa casa quase 1h."
Como sempre juntas, Célia e Ana Paula trabalham numa empresa em Perdizes, de onde irão direto para a escola.
Após a matrícula, as duas conheceram a escola. "É legal aqui, gostamos, o problema vai ser a volta", comenta Célia, que ontem continuou sem saber que ônibus terá de pegar por causa da carona.
Talvez Ana Paula e Célia não estudem no Ciridião. Elas se matricularam para garantir vaga.
As duas fizeram o vestibulinho da escola municipal Guiomar Cabral, em Pirituba, perto de Taipas, onde pretendem fazer o curso técnico de processamento de dados.
Se apenas uma delas for aprovada o drama continua. "Se eu passar sozinha, acho que fico aqui com ela", afirma Ana Paula.
"A gente fez o maior esforço para estudar juntas. São oito anos juntas", diz Célia. "E a companhia para ir para casa? Só, eu não volto", afirma Ana Paula. (MO)


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