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APOIO
Inspirada no Alcóolicos Anônimos, entidade está no Brasil há 28 anos, com 390 grupos que se reúnem semanalmente
Neuróticos Anônimos ajuda 8 mil no país
JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
especial para a Folha
Pregado na mesa, um cartaz avisa, enfático na repetição das palavras: ``O que você ouve aqui,
quem você vê aqui, quando você
sair daqui deixe que fique aqui''.
Em volta da mesa, as 20 e poucas
cadeiras estão ocupadas por todo o
tipo de gente. Uma professora de
educação física de 32 anos. Uma
dona-de-casa de 77. Um militar
passado dos 50, severo, porém
sorridente.
Começa uma reunião do Neuróticos Anônimos, ou N/A, um dos
muitos grupos de ajuda mútua,
como eles se definem, inspirados
no Alcoólicos Anônimos.
No Brasil desde 69, o N/A tem experimentado um crescimento significativo nos últimos anos. Desde
janeiro, cartazes com o telefone do
escritório central estão em todas as
estações de metrô de São Paulo.
As reuniões são sempre iguais.
Por duas horas, quem quiser pode
falar para a pequena platéia sobre
seus problemas. É comum ver que,
aqui e ali, alguém abana a cabeça,
concordando com o que ouve.
``Chamamos de `terapia de espelho''', explica uma das frequentadoras. ``Quando as pessoas percebem que os problemas delas não
são só delas, se sentem melhor.''
Para frequentar as reuniões, basta ter vontade. Ninguém pergunta
nome, idade, condição social.
``Uma das nossas mais fortes tradições é garantir o anonimato'',
diz o coordenador do N/A em São
Paulo, um funcionário público de
42 anos que preserva a identidade.
Certa vez, nos bastidores do programa ``Jô Onze e Meia'', três dirigentes do N/A tiveram de escolher:
mostravam o rosto na TV e davam
a entrevista, ou permaneciam anônimos -e não iam ao ar. ``Foi difícil, mas mantivemos a tradição'',
conta uma das dirigentes. ``Jô Soares compreendeu e demos a entrevista de costas para as câmeras.''
Há, em São Paulo, 52 grupos que
se reúnem uma vez por semana.
Em todo o Brasil, eles são 390. Como não há inscrições, não se sabe
quantas pessoas frequentam o
N/A, mas estima-se que cheguem
perto de 8 mil em todo o país.
Em abril, o N/A completa 28
anos de Brasil. Sua frequentadora
mais antiga, 25 anos de reuniões
semanais. Aos 77 anos, diz que foi
analfabeta até os 52 e só aprendeu a
ler para acompanhar os livros do
N/A. ``Quando cheguei aqui tinha
26 medos. De avião, de escuro, de
falar com pessoas mais cultas que
eu. Hoje, me sinto quase curada.''
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