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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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OURO PRETO EM CHAMAS

Área destruída foi vendida recentemente; falta de estrutura do Corpo de Bombeiros também será apurada

Promotoria investiga se fogo foi criminoso

Julio Azevedo
ANTES O prédio que se incendiou anteontem fica localizado na praça Tiradentes, ponto central de Ouro Preto


Julio Azevedo
O INCÊNDIO Não se sabe ainda o que causou o fogo, que destruiu um hotel e lojas turísticas que funcionavam no conjunto


THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OURO PRETO

O Ministério Público de Minas Gerais está trabalhando com a hipótese de que o incêndio que destruiu um conjunto histórico, anteontem, em Ouro Preto, possa ter sido criminoso.
Além das condições estruturais do Corpo de Bombeiros do município, que, de acordo com a Promotoria, se mostraram precárias para o controle das chamas, o Ministério Público apontou dois indícios que indicariam uma ação intencional.
O primeiro é o fato de que o prédio atingido pelo fogo na praça Tiradentes, um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade histórica mineira, passou recentemente por inspeção do Corpo de Bombeiros e nada foi apontado. Outro seria o horário em que o incêndio começou, às 18h, quando os funcionários das lojas do local já haviam ido embora.
"Não estamos descartando nenhuma hipótese", declarou a promotora Marta Alves Larcher, da curadoria do patrimônio de Ouro Preto.
"Algumas lojas passaram por vistorias recentes para renovação de alvará e nada foi constatado. Outras estavam com a rede elétrica recém-reconstituída."
No local destruído -com construções dos séculos 17 e 18-, havia joalheria, café, loja de artesanato, farmácia, loja de móveis e um hotel na parte superior.
O calor do incêndio destruiu ainda o telhado, móveis e eletrodomésticos da pousada Imperatriz, que fica ao lado. O edifício continua interditado.
O Ministério Público instaurou inquérito civil público para apurar as causas e responsabilidades no acidente.
Larcher também informou que todo o complexo foi vendido em outubro do ano passado para um empresário do Rio de Janeiro, que planejava construir um hotel no local. A promotora não divulgou o nome do empresário.
Desde fevereiro passado, a instituição já investiga a infra-estrutura do Corpo de Bombeiros no município.
De acordo com Larcher, a ação tem como objetivo "apurar a responsabilidade do Estado na falta de aparelhamento dos bombeiros". O atraso no combate ao fogo foi apontado por testemunhas e autoridades locais como a principal causa para o incêndio ter saído de controle.
Apenas sete bombeiros que estavam de plantão combateram o início do fogo, auxiliados pelo único carro-pipa que estava em funcionamento.
Segundo um bombeiro que participou da operação, a carga do caminhão (3.500 litros) durou cinco minutos. Dos seis hidrantes da cidade, somente um funcionou, localizado a cerca de um quilômetro do local do incêndio.
Foi quando, de acordo com testemunhas, o incêndio saiu de controle -o que tornou praticamente inútil o trabalho das equipes de reforço que chegaram em seguida.
O Corpo de Bombeiros afirmou que a operação de reabastecimento durou cerca de 20 minutos. Já testemunhas ouvidas pela Agência Folha falaram em 50 minutos.

Críticas
Membros de organizações não-governamentais locais e moradores criticaram a atuação da prefeitura no caso.
O diretor da sub-regional do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na cidade, Benedito Tadeu Oliveira, disse ter enviado, em fevereiro, um ofício à prefeitura manifestando preocupação quanto à possibilidade de incêndio na cidade durante o Carnaval.
A prefeita Marisa Xavier (PDT) disse que Oliveira "age politicamente", e que o diretor do Iphan já havia aprovado uma proposta da própria prefeitura para a implantação de um novo sistema de combate de incêndio na cidade.
Peritos do Ministério Público Federal estiveram no local e requisitaram à Polícia Federal abertura de inquérito policial para investigação do caso. Foi instaurado inquérito civil na Procuradoria da República em Belo Horizonte.
Ontem, a área do incêndio ainda estava isolada, porque havia o risco de desabamento das estruturas remanescentes.
Moradores organizaram um ato de repúdio ao incêndio. O secretário da Cultura de Minas Gerais, Luiz Nascimento Silva, afirmou que o Estado possui todas as plantas da área, e que as obras de reconstrução deverão começar em breve.


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