UOL


São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incêndio representa mais um revés

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

O incêndio que destruiu anteontem uma construção histórica em Ouro Preto é mais um revés contra o conjunto arquitetônico e paisagístico da cidade mineira, que corre o risco de perder o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1980.
Um representante do Comitê do Patrimônio Mundial, com sede em Paris, visitou Ouro Preto na semana passada para avaliar seu estado de conservação. O relatório deve ficar pronto em 90 dias.
A partir do documento serão feitas recomendações ao governo brasileiro para reverter o processo de descaracterização da cidade. Se os problemas persistirem, Ouro Preto poderá ser incluída na lista do patrimônio mundial em perigo. O próximo estágio é a perda do título da Unesco.
Os principais problemas da cidade são a ocupação desordenada das encostas, tráfego pesado no centro histórico, infra-estrutura de saneamento precária e obras irregulares.
O primeiro alerta foi dado em julho, durante seminário para discutir a implementação do Estatuto da Cidade nos sítios urbanos de reconhecido valor histórico e cultural.
"Pedimos que cada cidade patrimônio mundial apresentasse um quadro de sua situação e nos assustou muito o estado de conservação de Ouro Preto", afirmou na época a arquiteta e urbanista Jurema Machado, coordenadora da área de cultura da Unesco no Brasil.
A atenção do país, no entanto, foi despertada em novembro do ano passado, depois que um caminhão destruiu o chafariz da igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar, do século 18.

Falta de política
O representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, disse que a preocupação é a falta de uma política de preservação adequada para "um patrimônio mundial tão importante".
O plano diretor da cidade, elaborado em 1996, ainda não foi implementado.
Na semana passada foi concluído um estudo de tráfego encomendado pela prefeitura a uma empresa privada, no entanto as medidas propostas ainda precisam ser executadas.
"O incêndio mostra a fragilidade da prefeitura para supervisionar adequadamente os casarões históricos, em geral de madeira, e tomar medidas preventivas como a fiscalização da fiação e da estrutura. O incidente também mostra a fragilidade para responder a um acidente como um incêndio. Há carência de equipamentos", disse Werthein.
É de responsabilidade da prefeitura o planejamento urbano necessário para a preservação do patrimônio histórico de Outro Preto. Mas, o Comitê de Patrimônio Mundial enviou um representante à cidade mineira para fazer um diagnóstico somente cinco meses depois da destruição do chafariz da igreja do Pilar.
"Além do impacto no turismo, a perda do título concedido pela Unesco seria um atestado de incapacidade do governo brasileiro de zelar por seu patrimônio histórico", disse o membro do Icomos (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) e consultor técnico da Unesco Henrique Oswaldo de Andrade.


Texto Anterior: Ouro Preto em Chamas: Promotoria investiga se fogo foi criminoso
Próximo Texto: Cidade sediou Inconfidência
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.