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Incêndio representa mais um revés
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA
O incêndio que destruiu anteontem uma construção histórica em Ouro Preto é mais um revés
contra o conjunto arquitetônico e
paisagístico da cidade mineira,
que corre o risco de perder o título
de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco
(Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a
Cultura) em 1980.
Um representante do Comitê
do Patrimônio Mundial, com sede em Paris, visitou Ouro Preto na
semana passada para avaliar seu
estado de conservação. O relatório deve ficar pronto em 90 dias.
A partir do documento serão
feitas recomendações ao governo
brasileiro para reverter o processo
de descaracterização da cidade. Se
os problemas persistirem, Ouro
Preto poderá ser incluída na lista
do patrimônio mundial em perigo. O próximo estágio é a perda
do título da Unesco.
Os principais problemas da cidade são a ocupação desordenada
das encostas, tráfego pesado no
centro histórico, infra-estrutura
de saneamento precária e obras
irregulares.
O primeiro alerta foi dado em
julho, durante seminário para
discutir a implementação do Estatuto da Cidade nos sítios urbanos de reconhecido valor histórico e cultural.
"Pedimos que cada cidade patrimônio mundial apresentasse
um quadro de sua situação e nos
assustou muito o estado de conservação de Ouro Preto", afirmou
na época a arquiteta e urbanista
Jurema Machado, coordenadora
da área de cultura da Unesco no
Brasil.
A atenção do país, no entanto,
foi despertada em novembro do
ano passado, depois que um caminhão destruiu o chafariz da
igreja matriz de Nossa Senhora do
Pilar, do século 18.
Falta de política
O representante da Unesco no
Brasil, Jorge Werthein, disse que a
preocupação é a falta de uma política de preservação adequada para "um patrimônio mundial tão
importante".
O plano diretor da cidade, elaborado em 1996, ainda não foi implementado.
Na semana passada foi concluído um estudo de tráfego encomendado pela prefeitura a uma
empresa privada, no entanto as
medidas propostas ainda precisam ser executadas.
"O incêndio mostra a fragilidade da prefeitura para supervisionar adequadamente os casarões
históricos, em geral de madeira, e
tomar medidas preventivas como
a fiscalização da fiação e da estrutura. O incidente também mostra
a fragilidade para responder a um
acidente como um incêndio. Há
carência de equipamentos", disse
Werthein.
É de responsabilidade da prefeitura o planejamento urbano necessário para a preservação do patrimônio histórico de Outro Preto. Mas, o Comitê de Patrimônio
Mundial enviou um representante à cidade mineira para fazer um
diagnóstico somente cinco meses
depois da destruição do chafariz
da igreja do Pilar.
"Além do impacto no turismo, a
perda do título concedido pela
Unesco seria um atestado de incapacidade do governo brasileiro de
zelar por seu patrimônio histórico", disse o membro do Icomos
(Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) e consultor
técnico da Unesco Henrique Oswaldo de Andrade.
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