São Paulo, sábado, 16 de abril de 2005

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Se voltar à favela, tráfico a matará, diz pai

DA SUCURSAL DO RIO

Para o taxista Roberto, 55, sua filha será morta por traficantes caso volte ao morro do Turano, mas ela, diz o pai, "não sente medo".

 

Folha - O fato de sua filha ter ido para o morro o surpreendeu?
Roberto
- Ela é uma menina revoltada. Eu, de certa forma, a entendo. A revolta que ela tem eu tenho também. Na minha época havia guerrilheiros, Che Guevara, movimento social. Eu vejo o que tem nos morros hoje como um movimento social.

Folha - Pode explicar?
Roberto
- A atração dos jovens pelo morro é a nova forma de uma luta social.

Folha - Ela concorda?
Roberto
- Ela não tem consciência disso. Ela sente.

Folha - Ela disse ao sr. se está apaixonada por um traficante?
Roberto
- Não. Se existe, essa paixão é circunstancial. Aparece um garoto com um fuzil nas costas, respeitado na comunidade. Ela naturalmente sente atração.

Folha - Ela disse ao sr. se pretende voltar à favela?
Roberto
- Ela me disse que só não vai agora porque eu assinei o termo de responsabilidade, mas que aos 18 anos ela voltará.

Folha - E o que o sr. disse?
Roberto
- Que se ela voltar vão matá-la. Mas ela não tem medo.

Folha - E o sr. tem?
Roberto
- Eu cheguei ao ponto de pensar em deixá-la lá. Se eu ficasse pensando no medo eu não subiria o morro. Eu não pensei.


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