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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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SALVADOR

Levantamento da Defesa Civil mostra que 267 imóveis do centro histórico estão em ruínas ou podem desabar

Abandono de casarões ameaça moradores

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Fachada deteriorada de casarão ao lado do elevador Lacerda, localizado em área de tombamento do centro histórico de Salvador


MANUELA MARTINEZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Por trás de ruas estreitas, de museus e de casarões que contam grande parte da história dos séculos 16, 17 e 18 da primeira capital do Brasil, a periferia do centro histórico de Salvador abriga um cenário de abandono e de miséria.
Segundo um levantamento feito pela Codesal (Coordenadoria da Defesa Civil), 267 casarões estão em ruínas ou ameaçados de desabamento, colocando em risco a vida da população que vive na região. No total, o centro histórico abriga 3.000 casarões.
O drama dos moradores que residem nos imóveis ameaçados de desabamento ficou ainda mais grave neste ano, com as fortes chuvas que atingiram a capital baiana. Desde janeiro, duas pessoas já morreram soterradas, vítimas de desabamentos. Segundo a Codesal, desde janeiro de 2001, 16 imóveis desabaram completamente -sendo um na última quarta-feira-, e outros cinco, parcialmente.
Com fiação à mostra, telhado quebrado, piso infestado de cupins e vários pontos de infiltração, a maioria das casas- algumas com estrutura parcialmente destruída- está abandonada pelos seus proprietários e serve de abrigo para invasores, menores abandonados, traficantes e prostitutas.
Alguns dos casarões estão nas imediações do Pelourinho, dentro da área poligonal de tombamento do centro histórico, considerado pela Unesco (braço da ONU para educação e cultura) como patrimônio cultural da humanidade. Outra parte dos imóveis está localizada nas cercanias da região e é considerada área de preservação rigorosa, sendo proibidas modificações que afetem a fachada e a estrutura dos prédios, o que encarece a manutenção.
"Mesmo colocando em risco a vida dos moradores, essas construções não podem ser demolidas, já que se trata de uma área tombada. Então, o que podemos fazer é retirar a população dos casarões e interditar a área", diz José Carlos Fernandes, 54, subsecretário municipal para Assuntos de Defesa Civil.
Nos prédios com risco de desabamento, a Codesal notifica os proprietários e os moradores para saírem do local. No entanto grande parte se recusa a deixar as casas. "Se me tirarem daqui, eu não tenho para onde ir", disse a dona-de-casa Raquel dos Santos, 55, que mora em um dos imóveis condenados.
Segundo a dona-de-casa, que vive com sua família no centro histórico há mais de 30 anos, deixar aquela região é perder as suas origens. "Aqui eu conheço todo mundo e moro perto de tudo. Para sair daqui só se for para um lugar melhor, o que não está acontecendo."
Para executar as obras de preservação que estão na sétima etapa, o Estado oferece duas opções para os moradores deixarem a área: um auxílio-relocação médio de R$ 2.000 ou uma casa com infra-estrutura em Coutos, na periferia da cidade. "Já recebi o auxílio-relocação, mas aproveitei o dinheiro para comprar uma outra casa na rua. Não quero sair daqui para um lugar em que preciso pegar ônibus para fazer qualquer coisa", diz Airton Santos, 30.
A dificuldade também é grande para encontrar os proprietários das casas e responsáveis pela conservação dos imóveis. A maioria deles recebeu os imóveis como herança e não tem condições de mantê-los.
É o caso do aposentado José Arturo Gradin, 62, que recebeu um casarão com sete cômodos e duas lojas como herança de seu pai. "Durante muito tempo mantive um negócio no prédio, só que depois a região foi decaindo e apareceram muitos ladrões. Aí, tive que sair de lá", diz.
Atualmente, Gradin quer vender o prédio, mas até agora não apareceram compradores.


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