São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
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Exu tranca-ruas vai para o trono ou não vai?

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Alô, você aí, que também apóia o projeto do governo, proibindo o porte e a venda de armas de fogo e de munição! Pode ir preparando o balde de água fria para jogar na própria cabeça.
Lembra da coluna da semana passada, em que eu dizia que armas de fogo são instrumento do Exu tranca-ruas? Pois dois terços dos leitores que me escreveram para comentar o assunto se manifestaram contra o projeto do governo.
A maioria das mensagens começava assim: "Costumo concordar com você, mas dessa vez você pisou na bola" ou coisa que o valha.
Um leitor, com duas filhas, disse que dificilmente conseguiria defendê-las apenas com uma vassoura de piaçava.
Muitos alegaram que as estatísticas sobre confrontos entre portadores de armas e criminosos são questionáveis, uma vez que o cidadão de bem raramente dá queixa à polícia quando consegue afugentar o bandido.
Teve ainda quem invocou que o que está em jogo é a "liberdade individual, a liberdade de escolha e a liberdade do cidadão contra uma postura autoritária e ditatorial".
Os mais pragmáticos afirmaram que bastaria aplicar a lei vigente. Outros tantos esperam que o governo desarme não só a população, mas também os marginais. Enfim, houve quem tachasse o projeto do governo de populista, nos moldes dos projetos antifumo e cinto de segurança implantados na última gestão de Maluf na prefeitura.
Por mais que eu tente fazer jus ao meu signo solar, balança (mas não cai), os argumentos da turma pró-armas não conseguem me comover.
Amanhã o Congresso norte-americano vota reformas na legislação que diz respeito às armas de fogo. Possuir armas nos Estados Unidos é um direito garantido pela Constituição daquele país. E os republicanos, como sempre, irão alegar que a Carta Magna dos EUA é irretocável e que qualquer tentativa de mudar as regras estabelecidas por Jefferson e sua turma não passa de uma admissão de que o Estado falhou e não está conseguindo cumprir seus deveres básicos.
Pois eu gostaria de saber como é possível controlar a violência com uma Quinta Emenda daquelas, da época do onça. Entre a diminuição da violência e a garantia de uma liberdade que nem todos querem, eu opto pela erradicação das armas. E viva a modernidade!

QUALQUER NOTA

Acusação
A Nike gosta mesmo de ver o Brasil entrar pelo cano. Ontem, na CNN, para se defender das acusações de que a empresa explora a mão-de-obra infantil no Vietnã, um de seus consultores, de nome Marc Faber, usou o seguinte argumento: "As pessoas que se preocupam com o trabalho de crianças deveriam olhar para a produção de café em países como a Colômbia e o Brasil, que também usam mão-de-obra infantil".

Dúvida
O diretor Oliver Stone foi pego dirigindo drogado ou dirigindo filmes que são uma droga?

Bola dentro
Refresco a memória da oposição lembrando que, há mais de mês, esta coluna informou que a equipe Stewart de Fórmula 1 seria comprada pela Ford.

E-mail: barbara@uol.com.br


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