São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
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MEDICAMENTOS
Segundo especialistas, profissionais não confiam na distribuição gratuita
Desinformação leva médicos a não receitar remédios genéricos

da Reportagem Local

Desinformação e desconfiança com relação ao serviço público estariam por trás da resistência de parte dos médicos em receitar os remédios distribuídos de graça pelo governo. Essa opinião é compartilhada por diversos profissionais e entidades médicas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em três cidades do interior de São Paulo mostrou que a maioria dos médicos da rede pública não receita os medicamentos oferecidos pelo governo. O mesmo estudo revelou que um contingente maior ainda não utiliza o nome genérico do medicamento.
Na prática, essas duas atitudes impedem que muitos pacientes do SUS se beneficiem dos remédios gratuitos, tendo que comprá-los na farmácia. "Muitas vezes o médico poderia substituir uma marca de remédio por um genérico produzido pelo Estado, mas não o faz por falta de confiança ou de conhecimento", diz Raul Cutait, presidente do Instituto para o Desenvolvimento da Saúde. Segundo ele, esse problema tende a desaparecer quando o serviço público adotar normas de conduta padronizadas.
Pedro Paulo Monteleone, presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, diz que é preciso maior troca de informação entre instituições do governo e a classe médica. "A lista de medicamentos disponíveis precisa ser do conhecimento de todos os médicos da rede pública e a primeira opção deve ser uma droga dessa lista", diz.
José Erivalder Guimarães de Oliveira, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, diz que muitos postos de saúde não têm nem sequer a lista dos remédios disponíveis.
Maria Jacira Silva Simões, professora de saúde pública e que coordenou a pesquisa da Unesp, diz que vem aumentando o número de médicos que receitam remédios oferecidos pelo governo. "Mas, no geral -ressalva a pesquisadora-, pelo menos 30% das receitas ainda trazem medicamentos que não constam da lista."
O problema se agrava porque a maioria dos médicos ainda não utiliza o nome genérico, que é a substância ativa do remédio, como prevê a lei. O nome genérico permitiria que o remédio de uma marca comercial fosse substituído por outro fornecido pelo governo. "Vamos reforçar a necessidade de prescrever o nome genérico nas nossas unidades", diz Harue Ohashi, secretária executiva da Comissão de Medicamentos Básicos da Secretaria de Estado da Saúde.
O governo do Estado de São Paulo está gastando neste ano cerca de R$ 220 milhões em medicamentos. O Ministério da Saúde, por sua vez, repassa remédios num valor estimado em R$ 155 milhões. Por último, os municípios entram com uma contrapartida equivalente a R$ 0,50 por habitante/ano.


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