|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REMÉDIOS FALSOS
Presidente da associação diz que órgão não conseguiu acompanhar a evolução do mercado farmacêutico
Vigilância é despreparada, diz Abifarma
CARLA CONTE
da Reportagem Local
O presidente
da Abifarma
(Associação
Brasileira da Indústria Farmacêutica), José
Eduardo Bandeira de Mello,
afirma que a Vigilância Sanitária
precisa se reestruturar para atender as mudanças do mercado.
Também disse que o problema de
falsificação de remédios só será resolvido com programa de fiscalização do governo, que combata
principalmente a sonegação fiscal.
Leia a seguir os principais trechos
da entrevista.
Folha - O que o sr. acha da atuação da Vigilância Sanitária?
José Eduardo Bandeira de Mello -
Se toda essa ação tivesse ocorrido há três, quatro anos, certamente teríamos evitado milhões de
problemas que hoje estão sendo
noticiados pela imprensa. Isso demonstra que a indústria tinha toda
a razão quando, no começo da administração de Adib Jatene
(ex-ministro da Saúde), disse que
teria que mudar totalmente a estrutura da Vigilância Sanitária. Ela
é uma Vigilância de 40 anos atrás,
totalmente despreparada para enfrentar o crescimento do mercado.
Folha - Quem precisa participar
da fiscalização?
Mello - Vigilância Sanitária de
um lado e polícia de outro. É imprescindível também que o governo desenvolva um programa permanente de inspeção nas indústrias, distribuidoras...
Folha - Como o sr. vê essa onda
de interdições?
Mello -Agora, de repente, a polícia começa a achar depósito de lixo com remédio, a Vigilância fecha distribuidora clandestina... Será que isso tudo não existia antes?
Claro que existia, mas só agora estão dando atenção.
Folha - Por quê?
Mello - O caso das pílulas de farinha da Schering serviu de grande
alerta para o governo, polícia, sociedade e até mesmo indústria. Há
um ano, eu denunciei a falsificação
e um roubo de remédio. E o que foi
feito. Nada. Agora, o problema é
que a indústria farmacêutica séria
está sendo misturada com bandido, o que não pode acontecer. O
falsificador fica contente, porque o
foco da acusação acaba caindo em
quem trabalha no mercado formal. E o falsificador? Prenderam
um ou outro. Precisamos pegar as
quadrilhas.
Folha - Como fazer isso?
Mello - É fundamental intensa
ação da Receita Federal na questão
de sonegação. Se não tiver isso, o
bandido não é descoberto. Só com
essa inspeção, dá para coibir 80%
das falsificações.
Folha - Que outras medidas podem ser tomadas?
Mello - Outro ponto que acho
importante é colocar ombudsman
nas distribuidoras, indústrias e Vigilância. Essa é uma saída para ter
uma fiscalização permanente.
Com essa figura, todo o setor será
cutucado todos os dias.
Folha - Qual é o índice de falsificação de remédios no país?
Mello Não é verdade que 5%
dos medicamentos são falsificados
no Brasil. Se houvesse tudo isso de
remédio falso, o número de mortes seria enorme. Esse número não
chega a 0,05%.
Folha - Como pode melhorar a
sua fiscalização?
Mello - A portaria que determina que a indústria coloque na nota
fiscal o número do lote quando for
vender para as distribuidoras já
ajuda. Distribuidora também deve
colocar número de lote. É um trabalho a mais, mas compensa.
Quando o consumidor for comprar o remédio, ele também pode
pedir nota fiscal com o número do
lote. Isso ajuda.
Folha - O selo holográfico pode
resolver a combater a falsificação?
Mello - O selo não é um meio seguro. A grande prova são os CDs.
Dificulta, mas é preciso tomar
uma série de medidas que nunca
serão 100%, mas a somatória delas
cria para o falsificador uma dificuldade tão grande que ele acaba
tendo que gastar tanto dinheiro
para falsificar que não compensa.
Folha - O código de barras adiantaria?
Mello -Nós sugerimos isso ao
José Serra (ministro da Saúde). Estamos estudando um meio para
implantar isso -cada remédio
com um número de diferente. É
muito complicado, mas não impossível.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|