São Paulo, quinta, 16 de julho de 1998

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REMÉDIOS FALSOS
Presidente da associação diz que órgão não conseguiu acompanhar a evolução do mercado farmacêutico
Vigilância é despreparada, diz Abifarma

CARLA CONTE
da Reportagem Local


O presidente da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), José Eduardo Bandeira de Mello, afirma que a Vigilância Sanitária precisa se reestruturar para atender as mudanças do mercado. Também disse que o problema de falsificação de remédios só será resolvido com programa de fiscalização do governo, que combata principalmente a sonegação fiscal. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O que o sr. acha da atuação da Vigilância Sanitária?
José Eduardo Bandeira de Mello -
Se toda essa ação tivesse ocorrido há três, quatro anos, certamente teríamos evitado milhões de problemas que hoje estão sendo noticiados pela imprensa. Isso demonstra que a indústria tinha toda a razão quando, no começo da administração de Adib Jatene (ex-ministro da Saúde), disse que teria que mudar totalmente a estrutura da Vigilância Sanitária. Ela é uma Vigilância de 40 anos atrás, totalmente despreparada para enfrentar o crescimento do mercado.
Folha - Quem precisa participar da fiscalização?
Mello -
Vigilância Sanitária de um lado e polícia de outro. É imprescindível também que o governo desenvolva um programa permanente de inspeção nas indústrias, distribuidoras...
Folha - Como o sr. vê essa onda de interdições?
Mello -
Agora, de repente, a polícia começa a achar depósito de lixo com remédio, a Vigilância fecha distribuidora clandestina... Será que isso tudo não existia antes? Claro que existia, mas só agora estão dando atenção.
Folha - Por quê?
Mello -
O caso das pílulas de farinha da Schering serviu de grande alerta para o governo, polícia, sociedade e até mesmo indústria. Há um ano, eu denunciei a falsificação e um roubo de remédio. E o que foi feito. Nada. Agora, o problema é que a indústria farmacêutica séria está sendo misturada com bandido, o que não pode acontecer. O falsificador fica contente, porque o foco da acusação acaba caindo em quem trabalha no mercado formal. E o falsificador? Prenderam um ou outro. Precisamos pegar as quadrilhas.
Folha - Como fazer isso?
Mello -
É fundamental intensa ação da Receita Federal na questão de sonegação. Se não tiver isso, o bandido não é descoberto. Só com essa inspeção, dá para coibir 80% das falsificações.
Folha - Que outras medidas podem ser tomadas?
Mello -
Outro ponto que acho importante é colocar ombudsman nas distribuidoras, indústrias e Vigilância. Essa é uma saída para ter uma fiscalização permanente. Com essa figura, todo o setor será cutucado todos os dias.
Folha - Qual é o índice de falsificação de remédios no país?
Mello
Não é verdade que 5% dos medicamentos são falsificados no Brasil. Se houvesse tudo isso de remédio falso, o número de mortes seria enorme. Esse número não chega a 0,05%.
Folha - Como pode melhorar a sua fiscalização?
Mello -
A portaria que determina que a indústria coloque na nota fiscal o número do lote quando for vender para as distribuidoras já ajuda. Distribuidora também deve colocar número de lote. É um trabalho a mais, mas compensa. Quando o consumidor for comprar o remédio, ele também pode pedir nota fiscal com o número do lote. Isso ajuda.
Folha - O selo holográfico pode resolver a combater a falsificação? Mello - O selo não é um meio seguro. A grande prova são os CDs. Dificulta, mas é preciso tomar uma série de medidas que nunca serão 100%, mas a somatória delas cria para o falsificador uma dificuldade tão grande que ele acaba tendo que gastar tanto dinheiro para falsificar que não compensa.
Folha - O código de barras adiantaria?
Mello -
Nós sugerimos isso ao José Serra (ministro da Saúde). Estamos estudando um meio para implantar isso -cada remédio com um número de diferente. É muito complicado, mas não impossível.



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