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DEBATE
Lançamento do livro "A Maconha", do deputado federal Fernando Gabeira (PV), foi tema de discussão na Folha
Efeito da maconha ainda causa polêmica
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
São raras as discussões em torno
da maconha que
não se pautam por
posições e argumentos ideológicos, contrários ou favoráveis, mas
sempre apaixonados, quase irracionais. O debate realizado pela
Folha e a Publifolha, na última segunda-feira, foi uma dessas raridades e abriu espaço para questões históricas, legais, médicas e
culturais.
A mesa redonda foi organizada
pelo lançamento do livro "A Maconha", escrito pelo deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
O tema em si já "espalha um rastro de discórdia", avisa o autor no
livro. Mas tanto a publicação como o debate "deixaram espaço
para diferentes opiniões".
"É um tema que não pode ser
tratado com fanatismo", disse Elisaldo Carlini, professor de psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor
do Cebrid (Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas).
Além de Carlini e Gabeira, participaram o psiquiatra Arthur
Guerra de Andrade, coordenador
do Grea (Grupo Interdisciplinar
de Estudos de Álcool e Drogas),
do Hospital das Clínicas, e Maria
Lúcia Karam, professora do mestrado em criminologia da Universidade Cândido Mendes e membro da Associação Juízes para a
Democracia.
O livro responde às principais
questões que Gabeira reuniu em
mais de 500 debates dos quais
participou pelo país. As pessoas
queriam saber se a maconha leva
ao uso de outras drogas, se cria
dependência, se provoca danos à
memória e se tem fins medicinais.
Gaberia e Andrade divergem
sobre a tese de que a maconha pode ser uma "escada" que leva a
drogas mais pesadas.
O deputado se vale de vários autores para descartar a possibilidade de a maconha levar o consumidor para outras drogas. Ele cita o
caso da Holanda, onde o uso da
maconha é legalizado e a erva é
vendida nos cafés.
"O consumo de outras drogas
não cresceu, nem aumentou o uso
da própria maconha."
O número de fumantes de maconha na Holanda é a metade do
registrado na Inglaterra, onde em
1995 foram presas 588 mil pessoas
por causa da erva.
Quanto aos danos da maconha
à memória dos fumantes, Gabeira
cita estudos que tentam provar
que sim e que não. O leitor conclui que a cánabis causa uma perda de memória temporária e que
deve ser evitada quando em funções que exigem atenção e noções
espaciais, como dirigir.
O psiquiatra Andrade vê a cánabis com uma visão "mais médica", "com maior risco". Para ele, a
maconha é sim "uma droga que
leva ao uso de outras drogas" e
que causa dependência.
"Não há a síndrome de abstinência clássica, mas há a síndrome amotivacional", afirmou.
"O nível de motivação e competitividade de quem fuma um ou
dois baseados (cigarros de maconha) cai sensivelmente."
Outra crítica de Andrade é a
medicalização do uso da maconha. "A família encontra um baseado e pronto, já procura o médico, o psicólogo, e sempre encontrará profissionais dispostos a
ganhar com a maconha."
Segundo ele, talvez de 95% a
98% dos que fumam maconha
não precisam de ajuda médica.
"Mas aqueles que nos procuram
chegam numa situação grave."
O uso da maconha como remédio também divide opiniões. Como diz Gabeira, há pesquisas
mostrando que as substâncias
presentes na maconha curam
câncer e outras mostrando que
provocam a doença. Mas já não
há dúvidas sobre suas funções terapêuticas nos enjôos, especialmente os provocados pela quimioterapia. Enquanto o país importa dos EUA o Marinol, um medicamento contra náuseas à base
de cánabis, laboratórios brasileiros estão proibidos de produzi-lo.
Como já era esperado, Gabeira
não escapou do debate sem ter de
responder se fuma ou não fuma
maconha. Foi político.
"Conheço todos os tipos de haxixe, do Nepal, da Cachemira...
Mas não é bom a um deputado
que está trabalhando por mudanças na legislação dizer que fuma
maconha. Prefiro dizer que,
quando estou em Amsterdã, fumamos maconha nos cafés."
Livro: A Maconha
Autor: Fernando Gabeira
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 9,90 (82 págs.)
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