São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Ana vendeu até móveis para pagar viagem

DA AGÊNCIA FOLHA

A mineira Ana (nome fictício), 26, tentou o visto de entrada nos EUA em 2001. Bastou uma resposta na entrevista no consulado -a de que pagaria a viagem- para ter o documento negado.
Ana sempre quis ingressar nos EUA para trabalhar e depois regularizar sua situação. Sonho adiado até o anúncio, no mês passado, de que o México exigirá visto de brasileiros a partir do dia 23.
Para evitar a exigência mexicana, ela decidiu tentar de novo. Pelo namorado da irmã de uma amiga, que vive nos EUA, soube de um brasileiro em Boston que cobrava US$ 9.500 (cerca de R$ 21 mil) pela entrada ilegal -US$ 6.000 na chegada e US$ 3.500 parcelados.
Em 15 dias, Ana vendeu móveis e eletrodomésticos e juntou US$ 1.000 -pegou emprestados os outros US$ 5.000. Largou o trabalho de auxiliar de serviços e em 23 de setembro estava em São Paulo, com mais três pessoas e uma mochila de roupas.
Um contato da quadrilha de Boston em BH orientou o grupo a procurar um hotel perto da rodoviária do Tietê. "Disseram que a polícia estava pegando e que eles iriam escolher um hotel seguro."
Com o hotel mais próximo cheio, o grupo foi para uma pensão. O contato mineiro forneceu o número de um agente em São Paulo, encarregado de repassar recados e diárias de hotel (R$ 30 a R$ 50) e alimentação (R$ 12).
O agente só apareceu no domingo. Deslocou o grupo da pensão e 15 pessoas até outro hotel, na República.
Ana identificou sete integrantes na quadrilha -três em Boston, três em São Paulo e um em Belo Horizonte.
O agente de São Paulo deu instruções: não dar o telefone do hotel nem portar foto, endereço ou agenda, fazer cópia do passaporte longe do hotel e esconder o original, manter alguém no quarto e não fazer barulho.
Às 12h do dia 2, um domingo, após uma semana de informações desencontradas sobre a data da viagem, o agente de São Paulo chegou com a notícia de que a PF estava em hotéis da região e todos deveriam sair.
Depois de um dia sem almoço, entre horas de espera por contatos da quadrilha na rodoviária, em um shopping e em uma praça, chegaram em um novo hotel às 21h40.
Na sexta seguinte, deixaram o hotel porque o agente não havia pagado uma diária. Como o atraso da comida, o contato mineiro decidiu, segundo ela, romper com o pessoal de São Paulo. E Ana foi para o seu quarto hotel na semana passada, ainda sem a data da viagem.


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