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Ana vendeu até móveis para
pagar viagem
DA AGÊNCIA FOLHA
A mineira Ana (nome fictício), 26, tentou o visto de
entrada nos EUA em 2001.
Bastou uma resposta na entrevista no consulado -a de
que pagaria a viagem- para
ter o documento negado.
Ana sempre quis ingressar
nos EUA para trabalhar e depois regularizar sua situação. Sonho adiado até o
anúncio, no mês passado, de
que o México exigirá visto de
brasileiros a partir do dia 23.
Para evitar a exigência mexicana, ela decidiu tentar de
novo. Pelo namorado da irmã de uma amiga, que vive
nos EUA, soube de um brasileiro em Boston que cobrava US$ 9.500 (cerca de R$ 21
mil) pela entrada ilegal
-US$ 6.000 na chegada e
US$ 3.500 parcelados.
Em 15 dias, Ana vendeu
móveis e eletrodomésticos e
juntou US$ 1.000 -pegou
emprestados os outros US$
5.000. Largou o trabalho de
auxiliar de serviços e em 23
de setembro estava em São
Paulo, com mais três pessoas
e uma mochila de roupas.
Um contato da quadrilha
de Boston em BH orientou o
grupo a procurar um hotel
perto da rodoviária do Tietê.
"Disseram que a polícia estava pegando e que eles iriam
escolher um hotel seguro."
Com o hotel mais próximo
cheio, o grupo foi para uma
pensão. O contato mineiro
forneceu o número de um
agente em São Paulo, encarregado de repassar recados e
diárias de hotel (R$ 30 a R$
50) e alimentação (R$ 12).
O agente só apareceu no
domingo. Deslocou o grupo
da pensão e 15 pessoas até
outro hotel, na República.
Ana identificou sete integrantes na quadrilha -três
em Boston, três em São Paulo e um em Belo Horizonte.
O agente de São Paulo deu
instruções: não dar o telefone do hotel nem portar foto,
endereço ou agenda, fazer
cópia do passaporte longe
do hotel e esconder o original, manter alguém no quarto e não fazer barulho.
Às 12h do dia 2, um domingo, após uma semana de
informações desencontradas sobre a data da viagem, o
agente de São Paulo chegou
com a notícia de que a PF estava em hotéis da região e todos deveriam sair.
Depois de um dia sem almoço, entre horas de espera
por contatos da quadrilha na
rodoviária, em um shopping
e em uma praça, chegaram
em um novo hotel às 21h40.
Na sexta seguinte, deixaram o hotel porque o agente
não havia pagado uma diária. Como o atraso da comida, o contato mineiro decidiu, segundo ela, romper
com o pessoal de São Paulo.
E Ana foi para o seu quarto
hotel na semana passada,
ainda sem a data da viagem.
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