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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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COMPORTAMENTO

Apesar dos salários e dos riscos, candidatos se esforçam para passar pelo vestibular e pela prova de aptidão física

Mesmo com ataques, 7.000 querem ser PMs

ALESSANDRA BALLES
DA REDAÇÃO

O primeiro trabalha das 8h30 às 17h30 e às vezes revisa as matérias depois que chega do cursinho, à 1h. A segunda parou de trabalhar em dezembro de 2002 para poder ter mais tempo de se preparar, mas não mantém uma rotina com horários rígidos. O terceiro não trabalha e segue à risca o tempo predeterminado de dedicação.
Em comum, esses três vestibulandos da Fuvest têm um sonho: ingressar na Academia de Polícia Militar do Barro Branco.
Mas, para atingir essa meta, dos 157.808 inscritos na Fuvest, são as mulheres que pretendem ser PMs as que vão enfrentar a maior concorrência: são 76,73 candidatas para cada uma das 15 vagas. Para os homens, a disputa também é acirrada: são 43,54 inscritos para cada uma das 135 vagas. Como comparação, em medicina, a relação é 35,43 candidatos/vaga.
Filho de uma funcionária pública e de um ferramenteiro, Roberto Aiello é auxiliar de contabilidade e faz cursinho das 19h às 23h, na Lapa. Como mora em Sapopemba, na zona leste, só chega à sua casa à 1h. Aos domingos, vai ao Cursinho da Poli, em que é bolsista, para o plantão de dúvidas. Fica lá por cerca de cinco horas. Nas tardes de sábado, também estuda cinco horas, mas dedica as manhãs para se preparar para a prova de aptidão física: nada das 7h às 8h, depois corre e faz exercícios na barra e abdominais.
Além de ser aprovado na Fuvest, para ingressar no Barro Branco é preciso passar por outras etapas de seleção. Uma delas é o exame físico, do qual fazem parte flexão de braços, corrida de 50 metros, abdominais e natação.
Para Aiello, toda a preparação vale a pena se realizar o sonho que diz ter desde criança, e nem casos como os recentes atentados a bases comunitárias da PM, atribuídos ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e que resultaram na morte de dois policiais militares, o desanimam: "Quanto mais atentados, mais casos de violência, maior a minha motivação".
A dona-de-casa Ana da Conceição Frohmut afirma que sua vida é rezar. "Primeiro rezava para o meu marido chegar vivo, agora, para a minha filha ser aprovada e, se ela for, vai ser a mesma coisa", diz a mãe de Mariane Frohmut, 20, que pretende seguir a mesma carreira do pai, PM reformado.
"Quando eu estava na quarta série, a professora perguntou para todos o que cada um queria como profissão. Eu disse que seria policial e todos riram, por eu ser mulher e por ser "tampinha"." Mariane tem 1,60 m, a altura mínima exigida para poder ser aprovada.
"Se eu fosse optar por salário, eu tentaria medicina, como a minha mãe queria, mas eu vou escolher o meu sonho, que é ajudar os outros." Ela diz que não mantém horários rígidos de estudos e que está priorizando a Fuvest. "Se for aprovada, vou ter um tempinho para me preparar fisicamente."
José Eduardo de Campos Tenucci, 19, tenta o curso pela segunda vez. Faz cursinho das 7h às 13h e fica na sala de estudos das 14h às 20h. No sábado, estuda por seis horas e faz curso de redação, das 18h às 19h30. O domingo é para a prática dos treinos físicos.
Tenucci diz que os amigos estranham ele estudar tanto para ser PM, uma carreira tão arriscada. "Perguntam se eu não tenho medo de morrer. Eu acho que, se eu ficar aqui no sofá, vou morrer de qualquer jeito, então que eu morra fazendo algo de que goste." De 2000 a setembro deste ano, 128 PMs morreram em serviço, segundo estatísticas oficiais da Secretaria da Segurança Pública.


Colaborou ANDRÉ NICOLETTI, da Reportagem Local

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