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Para especialistas, milícia significa "barbárie" e "falência do Estado"
DA SUCURSAL DO RIO
Ex-diretora da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança
Pública) no atual governo, a antropóloga e cientista política
Jacqueline Muniz avalia que a
ação das milícias nas favelas cariocas é uma volta à barbárie.
"Quando você tem a proliferação desses mecanismos, estamos diante do vigilantismo. E o
vigilantismo é o sinal da falência da segurança pública. É cada um por si e Deus por todos.
Isso significa que é o retorno à
barbárie", afirmou ela, que foi
coordenadora de Segurança
Pública do governo fluminense
na gestão de Anthony Garotinho (1999-2002).
No artigo "A Ameaça da Proteção" (de agosto de 2006), parceria com o professor e engenheiro Domício Proença Júnior, da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro),
Muniz sustenta que "proteger
não é prover segurança".
"A base de seu funcionamento é a ameaça concreta e constante. Conduz à sujeição dos indivíduos, ao abandono das garantias individuais e coletivas.
A lógica da proteção, incapaz de
promover a segurança coletiva,
introduz o medo como conselheiro, a violência como cotidiano e o terror como horizonte", diz o texto.
Para Muniz, a milícia exerce
"a mesma tirania, da mesma
natureza e grau, do tráfico".
"Ali o Estado não se faz presente, ali não tem segurança
pública. Você fica ao sabor das
apetites, taras e manias dos tiranos da ocasião", diz ela. "Essa
é uma receita do desastre, do
caos. Porque no limite você
também tem o direito à sua vida. No mundo da proteção, você não tem justiça, tem justiçamento. Nesse universo, as pessoas estão sujeitas, subjugadas.
Por isso o silêncio, o medo permanente. É a lógica do terror."
Lei do mercado
O geógrafo Jaílson de Souza e
Silva coordena o Observatório
de Favelas, entidade que apresentou em novembro os resultados da pesquisa "Caminhada
de Crianças, Adolescentes e Jovens no Tráfico de Drogas no
Rio de Janeiro". Criado no
complexo da Maré, onde a entidade funciona, ele afirma estar
muito preocupado com o crescimento da área de atuação das
milícias e sua chegada às comunidades da região.
À Folha, disse que as milícias, a partir da delimitação do
território, submetem os moradores à forma como atuam, cobrando por segurança e transportes, por exemplo. Para ele,
que leciona na UFF (Universidade Federal Fluminense), a fixação da milícia numa comunidade atesta "a falência do Estado e da cidadania".
O diretor do serviço Disque-Denúncia, Zeca Borges, rotula
o problema das milícias como
"o mais grave" da segurança
pública da região metropolitana hoje. Às corregedorias da
Policia Civil e da PM seguem as
denúncias telefônicas recebidas pelo serviço, que, patrocinado pelo empresariado, funciona de modo independente
da Secretaria de Segurança. "O
que rege essas milícias é a lei do
mercado", afirmou.
(ST)
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