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Artesãos de Parintins fazem "fortuna" em barracões de SP
Treinados no festival do boi-bumbá, profissionais chegam a ganhar R$ 30 mil por trimestre de trabalho no Carnaval
Escolas estimam que 300 "parintins" estejam na cidade para a temporada; alguns dormem dentro
dos carros alegóricos
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Escultor de carros alegóricos
em Parintins (AM) "desde curuminzinho", Waldemar Santos, 28, divide seu ano entre a
pobreza e a riqueza.
De outubro até o Carnaval,
dorme em alojamento improvisado no barracão da Dragões da
Real, do Grupo de Acesso de
São Paulo. Na cidade, só anda a
pé e de trem e trabalha o dia todo, de domingo a domingo, incluindo os bicos que faz quando
está de folga.
Quando, ao final de fevereiro,
retorna ao Amazonas, a vida é
outra. Ali, Santos é parte de
uma elite invejada de parintinense que, pela experiência
com robótica nos bonecos do
festival dos bois Caprichoso e
Garantido, dominou os barracões nos Carnavais do Sudeste
nos últimos anos.
Nesta temporada, estimam
as escolas, trabalham em São
Paulo cerca de 300 "parintins"
(chamados assim, como um
substantivo contável). Os cachês começam em R$ 5.000
por um trimestre de trabalho,
mas podem passar dos R$ 30
mil. Alguns dizem ganhar cinco
vezes mais do que no Amazonas.
Na volta para casa, esse dinheiro se materializa em casas
amplas, muitas com piscina e
carros na garagem. O soldador
Marlúcio Pereira Filho, 33, que
neste ano trabalha na Gaviões
da Fiel, do Grupo Especial, já
construiu casa "com três quartos, dois banheiros e TV 29 polegadas". Ao regressar, vai se
presentear com "uma TV de
plasma" e com o luxo de não
trabalhar no próximo festival
de Parintins, que acontece em
junho, para assistir de casa aos
jogos da Copa do Mundo.
Como nos tempos de Serra
Pelada, a conquista é muito
suada. Nos barracões da Gaviões, onde passeiam ratazanas
gordas como cachorros, alguns
trabalhadores dormem em redes armadas dentro de carros
alegóricos. Há também camas
em uma casa alugada e alojamentos improvisados.
Só na escola, trabalham quase 40 "parintins". "Eles dão duro, até de madrugada, e gostam,
não reclamam", diz José Braga,
da direção da Gaviões.
O confinamento nos barracões deixa pouco tempo para
conhecer a cidade. José Onofre,
31, em seu primeiro Carnaval
em São Paulo, diz que seu único
lazer à noite é na própria escola
de samba, ouvindo músicas de
bandas de forró, como Mastruz
com Leite. Marlúcio, quando
pode, vai a cinemas. "Gosto de
efeitos especiais, para tentar
reproduzir nos carros. Vi "Avatar" e fico pensando em como
fazer aquele acabamento."
Descendentes de povos indígenas, eles se irritam com a
"falta de informação" sobre seu
Estado e não gostam de ser chamados de "índios". "Perguntam
se andamos nus, se vivemos no
mato. Não sabem nada", diz
Waldemar Santos. "Respondo
umas mentiras, digo que vou
lançar feitiço e dar flechadas."
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