São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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VIOLÊNCIA
Em janeiro, Silva voltou atrás nas acusações que fizera; para delegado, investigação será arquivada
Camelô morto tinha retirado denúncias

GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local

O presidente da Associação dos Camelôs Independentes de São Paulo, Gilberto Monteiro da Silva, morto ontem, havia prestado novo depoimento em janeiro deste ano inocentando o ex-deputado estadual Hanna Garib das acusações feitas durante as investigações da máfia da propina.
Silva foi uma das pessoas que declarou à polícia e à CPI da máfia da propina ter presenciado o pagamento de propina para Garib. Também admitiu que recolhia propina para fiscais da Administração da Regional da Sé para garantir a permanência de ambulantes no viaduto Santa Ifigênia.
No novo depoimento, prestado no dia 11 de janeiro, o ambulante disse que "nunca pagou propina ou deu dinheiro ao vereador Hanna Garib ou outra pessoa".
"Antes de prestar depoimento, ele me disse que não tinha como provar o que tinha dito anteriormente", disse o delegado titular do Setor de Investigações Gerais da 1º Delegacia Seccional (Centro), Arlindo José Negrão Vaz.
O delegado preside o inquérito aberto a pedido do Ministério Público para apurar as denúncias feitas pelo ambulante em setembro de 99.
O delegado da 1º Seccional afirmou que o inquérito que apura as declarações dadas por Silva deverá ser arquivado, já que o próprio denunciante desmentiu suas declarações.
"Na primeira vez, ele achou que se tornaria um mártir por ter denunciado e acabou sendo incriminado também por recolher propina. Ele pode ter voltado atrás com medo de ser prejudicado novamente", disse Vaz.
Silva foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público por corrupção ativa e formação de quadrilha com mais dez pessoas acusadas de atuar na máfia da AR-Sé.
Conhecido como "dono do viaduto" Santa Ifigênia, Silva denunciou um esquema de corrupção promovido por fiscais da AR-Sé, que era controlada politicamente por Hanna Garib, contra as 226 bancas do viaduto.
"Eu arrecadava uns R$ 30 mil por mês. Ou seja, R$ 7.500 por semana -R$ 35 de cada camelô. Disso, R$ 10 mil ficavam comigo para minha subsistência, R$ 5.000 pagavam as despesas da associação e R$ 15 mil iam para os chefes da fiscalização", disse em depoimento à polícia no ano passado.
O ambulante admitiu no último depoimento que deu dinheiro para o ex-assessor de gabinete do então vereador Hanna Garib, conhecido como Antonio Libanio.
Silva disse que apenas emprestava dinheiro para o assessor, que passava dificuldades financeiras. Libanio tinha trabalhado na AR-Sé como chefe da fiscalização.
No final do depoimento prestado em janeiro, o ambulante negou ter cometido qualquer crime e disse que suas palavras foram "mal interpretadas" à época das denúncias.
Vaz já ouviu o ex-deputado Hanna Garib e outras duas pessoas citadas pelo ambulante no depoimento do ano passado. Os três negaram as irregularidades.


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