São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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Para líder, assassino quer intimidar

da Reportagem Local

O líder do Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo (Sindcisp), Afonso José da Silva, 30, disse ontem que a morte de Gilberto Monteiro da Silva é uma forma de intimidá-los em novos depoimentos, caso seja aberta uma nova CPI para apurar as denúncias da ex-primeira-dama, Nicéa Pitta.
Em fevereiro do ano passado, o próprio Afonso, também autor de denúncias, foi vítima de uma tentativa de homicídio. Levou quatro tiros em sua casa. Duas pessoas foram presas, acusadas do crime.
"A morte do Gilberto pode calar os demais denunciantes que possam vir a depor na nova CPI", disse Afonso. "Vamos ficar reféns, esperando a nossa hora", concluiu, temeroso.
Para Afonso, não pode haver outra explicação para o crime, além das denúncias. "O Gilberto não tinha inimigos pessoais, mas inimigos políticos, e ele denunciou o Garib tanto quanto eu."
Para a ambulante Ana Maria Gasque, 52, que no ano passado reforçou as denúncias de Afonso e teve sua casa atacada no mesmo dia em que ele foi baleado, os dois podem ser as próximas vítimas.
"Já morreu o Reinaldo, em novembro, agora mataram o Gilberto, atiraram no Afonso e na minha casa. Só falta nós mesmos."
A morte de Reinaldo Ferreira Santana, em novembro de 99, já havia mudado o cotidiano de Afonso e Ana Maria. Ambos só andam acompanhados de seguranças, contratados pelo sindicato que ele preside.
Segundo José Artur Aguiar, 42, o Cabeludo, vice-presidente da Associação dos Camelôs Independentes, Silva era o mais ameaçado dos líderes dos ambulantes porque se expôs mais. "Ele falou muito à CPI", disse.
O clima era de tensão e medo na ladeira da Memória ontem à tarde. Os boxes dos camelôs estavam todos fechados desde o meio-dia, em luto pela morte de Silva.
Alguns dos vendedores resolveram acompanhar o vice-presidente da associação, José Artur Aguiar, que havia ido para o Instituto Médico Legal fazer o reconhecimento do corpo.
Os poucos comerciantes que ainda andavam pelo local estavam desconfiados e se recusaram a dar entrevistas.


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